quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Rosângela Bittar: O Ministério Dilma já está em formação

• Do professor aos trainees: vencer ou vencer

- Valor Econômico

Dia 30 de agosto, um sábado, Lula procurou Marcos Coimbra, diretor do instituto Vox Populi, de Belo Horizonte, e pediu análise dos dados da pesquisa Datafolha que situava a candidata Marina Silva (PSB) dez pontos percentuais acima da candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) no segundo turno da disputa presidencial. No instante seguinte, o ex-presidente detonou um complexo conjunto de medidas destinadas a tirar o PT e seus candidatos da defensiva e fazê-los retomar o curso, senão da vitória, pelo menos do patamar de votos que o partido sempre teve em São Paulo.

Falando aos que convocou para a tarefa, Lula foi delicado com Marina, ainda a chamou de companheira e demonstrou conhecer sua ligação com um grande grupo de petistas históricos que com ela formaram um núcleo identificado com teses mais moderadas na década passada - Eduardo Suplicy, Jorge Viana, Luiza Erundina, Luiz Gushiken (falecido), Fernando Pimentel, Eduardo Jorge. Ele próprio reconhecia não se sentir alijado do poder caso ela fosse eleita. Porém, a sua determinação era fazer o PT reagir no Estado. Percebeu que havia acomodação com a derrota iminente.

Lula chamou Dilma às falas e fez sua parte. Determinou que ela desse sinal da troca de ministro da Fazenda. Fez mais: pessoalmente, procurou Henrique Meirelles, presidente do Banco Central no seu governo, para demovê-lo da decisão de declarar apoio a Marina Silva, o que o ex-presidente do BC estava prestes a fazer. Embora Dilma não tenha apreço por Meirelles e nunca tenha concordado em levá-lo ao governo, achou, e seu tutor político concordou, que era um pouco demais perdê-lo para a adversária figadal. Obtido o recuo de Meirelles, Lula passou a agitar a presença de Dilma em São Paulo. Promoveu encontro com sindicalistas, foi ao Anhembi com prefeitos, vereadores, deputados, convocou mulheres, perfilou o Diretório Nacional, atiçou a militância com o discurso do vencer ou vencer. Deu ordens aos candidatos: a Alexandre Padilha mandou a mensagem de fazer uma campanha de desconstrução de Geraldo Alckmin, como a que é feita por Paulo Skaf, de forma que, com as coordenadas de atuação e simpatia que já passara ao mal avaliado prefeito Fernando Haddad, fosse possível elevar a intenção de voto em Dilma, Padilha e Eduardo Suplicy. Dilma deveria, também, aumentar os ataques a Marina Silva. Terá sido o ex-presidente Lula quem recomendou-lhe o soco brutal desferido ontem - "não tenho banqueiro me sustentando" - contra a adversária?

As pesquisas desta semana, segundo os controles do PT, mostram o acerto destas iniciativas. Não houve o empate esperado no segundo turno, pelo menos não na enquete do MDA divulgada ontem, em Brasília, mas Dilma respira, principalmente pela melhora de sua situação em São Paulo. Onde se decidem as eleições, como Lula repete, sem cansar.

A candidata Dilma Rousseff ainda se mostra desajeitada para algumas ações mais delicadas, típicas da atribuição da presidente Dilma Rousseff. Por exemplo, o sinal de que em um segundo mandato trocará o ministro da Fazenda deixou o titular do cargo, Guido Mantega, em situação humilhante, defenestrado sem ter pedido para sair, ainda. Com toda a arrumação de versões a posteriori, o ministro passará três meses na condição de alma penada no cargo cujas decisões, se é que ainda as tomará, certamente terão validade vencida por antecipação. Nada de novo, fritura de ministro sempre foi uma trapalhada no governo Dilma.

Próximos a Lula dizem, porém, que ele fará do seu jeito, inclusive no segundo governo. Está impondo restrições até mesmo ao alcance das decisões de João Santana, a quem provoca com elogios à campanha de Skaf, conduzida pelo seu rival Duda Mendonça. O ex-presidente avisou, ao retomar as rédeas, que no segundo mandato não perderá o controle. Resta saber como isto se dará, pois corre solta a escalação do Ministério Dilma e não se tem notícia de aval ou veto do ex-presidente, ainda.

Aloizio Mercadante é o primeiro, não será surpresa se, finalmente, puder comandar a economia; Rui Falcão, o presidente do partido, é cogitado para um cargo de coordenação política ou o ministério das Comunicações, onde poderá conduzir o projeto de controle da mídia; Miguel Rossetto é curinga; Tarso Genro terá lugar se perder a disputa no Rio Grande do Sul.

O atual Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, que não concorreu este ano, deve permanecer para conduzir a Olimpíada. Gilberto Kassab, do PSD, Cid e Ciro Gomes, do Pros, ficarão sem mandato e terão seu prêmio pela fidelidade. Um grupo de técnicos, entre eles Alessandro Teixeira e Beto Vasconcelos, ocupará posição de relevo. Lula deverá ser ouvido em áreas com influência eleitoral mais sensíveis, como a economia, Saúde, Educação e Justiça, com o poderoso instrumento da Polícia Federal. Lula não quer um governo fraco para que possa disputar em 2018 sem risco ou ameaça.

Ainda não houve mudança da estratégia de foco em São Paulo, sob o comando de Lula, depois do depoimento à polícia do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ele delatou o esquema de pagamento de propina à base aliada dos governos Dilma e Lula, e demonstrou proximidade com o ex-presidente. Também ainda não saíram pesquisas de intenção de voto que considerem o impacto das revelações. Talvez aquelas que serão divulgadas hoje à noite já apresentem alguma contaminação do novo fato. A orientação é deixar tudo à destreza de Lula: ele é vacinado, nele nada pega, como já ficou demonstrado, mesmo que o próprio tesoureiro do PT permaneça citado na delação premiada. Mas há apreensão com o que pode estar dizendo o ex-diretor da Petrobras, teme-se o juiz Sérgio Moro, considerado um justiceiro discreto, e é grande a tensão com o conteúdo das extensas quatro horas diárias de depoimento, durante 15 dias. Inclusive o que pode vazar antes das eleições.

Além da autoconfiança, porém, os dirigentes da campanha petista confiam na fraqueza dos adversários. Acredita a cúpula da campanha de Dilma que Marina Silva não se sustenta no patamar que tem hoje, embora sua resistência, apanhando com tanta violência há mais de uma semana, e ainda vencendo no segundo turno, seja amazônica.

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