sábado, 27 de setembro de 2014

Zuenir Ventura: Palpite infeliz

- O Globo

• A presidente Dilma comportou-se na ONU como se estivesse em campanha. Aliás, a intenção era essa, transformar o lugar em palanque

Ao contrário de Lula, que fazia o maior sucesso no exterior, onde recebeu o apelido de “o cara”, dado por Barack Obama, a presidente Dilma não se saiu bem esta semana na ONU. Primeiro, foi muito criticada por ter levado para a abertura da Assembleia Geral um discurso eleitoreiro, de candidata, mais do que de chefe de nação, ao exaltar sem qualquer pudor feitos de seu governo, como diminuição da fome, redução da desigualdade social etc., etc. Comportou-se como se estivesse em campanha. Aliás, a intenção era essa, transformar o lugar em palanque, de onde, por meio de gravação, se dirigiria ao público daqui. Com isso, porém, ela teria enfraquecido nossas antigas pretensões a uma vaga no Conselho de Segurança da organização. Também não pegou bem na Cúpula do Clima da mesma ONU o Brasil ter se recusado a assinar o acordo que prevê o desmatamento zero até o ano de 2030, alegando que não foi consultado sobre sua elaboração. Outro motivo seria o fato de que a meta contraria o nosso Código Florestal, que autoriza o corte legal na Amazônia. Pode ser, mas entre os ambientalistas a decisão foi considerada um retrocesso.

Houve ainda a posição simplista em relação ao terceiro tema abordado pela nossa candidata-presidente na sua viagem diplomática: o bombardeio, sob liderança dos EUA, dos alvos do Estado Islâmico (EI) na Síria. No momento em que era decapitado pelos jihadistas mais um refém, provavelmente o quarto, ela preferiu condenar energicamente a ação americana. Depois de afirmar que “o Brasil é contra todas as agressões”, como se pudesse ser a favor, ela apresentou sua sugestão, um palpite absolutamente infeliz, para pôr fim à guerra: o diálogo com os terroristas, ou seja, com o grupo que chama de “mensagens de sangue” as atrocidades que pratica, filma e depois coloca o vídeo macabro na internet. É difícil imaginar a cena: a vítima ajoelhada aguardando a execução, o carrasco em pé ao lado, com o rosto coberto e a faca na mão, e o mensageiro da paz propondo ao verdugo, ansioso por acabar seu trabalho:

— Senhor jihadista, não corta ainda, não. Vamos conversar. Sei que podemos nos entender.

Seria risível, mas é trágico.

O delator Paulo Roberto Costa fez mais uma revelação estarrecedora: confessou que recebeu US$ 23 milhões de empreiteira no exterior para facilitar contrato com a Petrobras, além de US$ 1,5 milhão em propina para não atrapalhar a compra da refinaria de Pasadena. E olha que o doleiro Alberto Youssef, o outro homem-bomba, mal começou a falar. Vem muito mais coisa por aí. Aguardem. Por muito menos, numa época em que escândalo político ainda escandalizava, não era rotina, o país ficou conhecido como “mar de lama”. Bons tempos.

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