• Dependendo da renda e da cesta de consumo, aumento de custo em SP pode chegar a 10%, segundo professor
• Luz, água e transporte mais caros se somam, no começo deste ano, aos usuais desembolsos com escola e tributos
Joana Cunha – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O consultor de TI Felipe Frederigh, 36, e sua mulher, a arquiteta Taianna Sant"Ana, 36, já apontam o lápis para as contas de início de ano.
Só na última semana foram anunciados aumentos de energia elétrica, água e transporte público em São Paulo, valendo a partir de janeiro.
Os aumentos vão agravar o tradicional aperto de começo de ano, que traz IPTU, IPVA e material escolar.
Além disso, as perspectivas são que a inflação siga pressionada em 2015.
Para o orçamento de Felipe, uma das piores notícias é o aumento da gasolina: ele vai trabalhar de carro e usa o veículo para levar à escola os filhos Teodoro, 5, e Maria Carolina, 9. Mas a alta do ônibus encarecerá o transporte da doméstica.
A educação dos filhos, item de maior peso no orçamento da família, vai ser reajustada. "Trocamos a Maria Carolina de escola. Nem foi por causa do preço. Mas vamos aproveitar que essa nova escola é um pouco mais barata e usar a diferença para ajudar no curso de inglês", diz Taianna.
O gasto frequente com veterinário devido a uma doença crônica de Tom, o gato de estimação, também será equacionado. "Estou pensando em tirar do veterinário particular e levar a uma clínica de universidade pública."
A economia de água não será tão difícil de atingir, segundo Felipe, porque a família já aprendeu a evitar desperdícios. "Mas a economia de energia é algo que a gente ainda não começou a praticar. Vamos esperar ao longo do ano para entender melhor o impacto desses aumentos."
Em uma simulação realizada pelo professor da FGV e colunista da Folha Samy Dana, um paulistano que tem renda líquida de R$ 7.000 e gastos mensais de R$ 800 com gasolina, R$ 300 de energia, R$ 70 de transporte público, R$ 150 de água e R$ 2.000 em matrículas escolares terá um impacto adicional de quase 7,3% em seu orçamento a partir das próximas semanas, quando os reajustes entrarem em vigor.
Se a renda mensal for de cerca de R$ 5.000, o reflexo inflacionário no bolso sobe para 10%.
O impacto varia conforme a renda e a cesta de consumo, lembra a consultora financeira e colunista da Folha Marcia Dessen. "Cada família tem uma cesta de consumo, que pode ficar muito distante da média."
Dessen diz que, quando a inflação começa a corroer o poder de compra, as famílias têm duas reações: consumir menos ou fazer substituições por itens mais baratos, como trocar carne por frango.
Para Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest, o ajuste no orçamento de cada família depende de suas prioridades.
Segundo Calil, principalmente nos três primeiros meses do ano, muitos paulistanos terão de abrir mão de gastos ligados a conforto e lazer.
"Também vai sobrar menos recurso para formar poupança, o que é muito importante em termos macroeconômicos", diz o consultor. "Isso, em última instância, acelera a inflação."
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