• Presidente deve aumentar hoje lista de ministros do segundo governo; correntes petistas reclamam espaço
Luiza Damé e Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA - A três dias de sua posse para um novo mandato, a presidente Dilma Rousseff deve anunciar hoje mais nomes que irão compor seu futuro Ministério. Dilma saiu de cena nos últimos dias e aproveitou o feriado prolongado para deixar decantarem os problemas surgidos nas negociações com o PT. Um dos principais motivos da formação da equipe não estar concluída ainda é a insatisfação da principal tendência da legenda, a Construindo um Novo Brasil (CNB), com as escolhas que Dilma sinalizou que irá fazer.
Integrantes da CNB têm manifestado nos bastidores contrariedade com a perda de espaço no novo desenho ministerial para uma ala petista de menor expressão. Eles já admitem, no entanto, que dificilmente poderão fazer a presidente mudar de opinião. A intenção da presidente é levar para o Palácio do Planalto dois petistas gaúchos, Pepe Vargas e Miguel Rossetto, ligados à Democracia Socialista (DS).
O mal-estar maior é com a escolha de Vargas para a Secretaria de Relações Institucionais (SRI), cargo estratégico na articulação política do governo com o Congresso. Em várias decisões do PT, a DS atua em conjunto com a segunda maior corrente petista, a Mensagem ao Partido, considerada mais crítica aos desmandos da cúpula do partido, inclusive tendo reconhecido a existência do mensalão. Além de acreditarem que Pepe não tem o perfil adequado para a vaga, a CNB vê a perda da SRI, até então ocupada por Ricardo Berzoini, como uma demonstração clara da desidratação de seu grupo no núcleo palaciano. Berzoini deverá ser confirmado no Ministério das Comunicações, para tocar a proposta de regulação da mídia, defendida por Dilma na campanha.
Um parlamentar da corrente interna Mensagem ao Partido — da qual fazem parte o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro — acredita que as pressões no partido não devem provocar mudanças de última hora na composição que Dilma planeja fazer. E recomenda que os petistas da CNB, incluindo o ex-presidente Lula, evitem expressar contrariedades.
— É muito difícil enfrentar escolhas já feitas a essa altura do campeonato. E não acho que fazer uma reclamação vai alterar os rumos dessas escolhas. Melhor que os insatisfeitos guardem para si mesmos suas insatisfações — defende o petista.
A expectativa é que o anúncio seja feito após o retorno da presidente a Brasília. Ela passou o feriadão de Natal na Base Naval de Aratu, em Salvador. Atual ministro do Desenvolvimento Agrário, Rossetto deve ir para a Secretaria Geral da Presidência, para cuidar da articulação do governo com os movimentos sociais. Vai substituir o mais lulista dos ministros de Dilma, Gilberto Carvalho, futuro presidente do Conselho do Sesi. Tanto Rossetto quanto Gilberto entraram na campanha de Dilma na reta final das eleições.
O ex-ministro e deputado eleito Patrus Ananias (PT-MG) deverá assumir o Desenvolvimento Agrário, com a missão de melhorar a qualidade dos assentamentos e ampliar o processo de reforma agrária no país, que andou a passos lentos no governo Dilma. Patrus é um nome que agrada o partido.
Petistas tentam reaver o trabalho
O PT tentou retomar o Ministério do Trabalho, que comandou no governo do ex-presidente Lula. Dilma até se dispôs a atender o partido nesse aspecto, mas o PDT não abriu mão da pasta. A presidente ofereceu ao PDT o Ministério da Previdência Social, mas o partido aliado não quis. Assim, a tendência é que o ministro Manoel Dias seja mantido em seu cargo na Esplanada.
Apadrinhado do PP, o ministro Gilberto Occhi também deve continuar no governo, mas no Ministério da Integração Nacional. Embora o partido pretendesse manter o Ministério das Cidades, Dilma argumentou que gostaria de privilegiar o PP do Norte e do Nordeste — regiões mais dependentes dos projetos da Integração Nacional — que estiveram ao seu lado na campanha. As alas de Sul e Sudeste trabalharam para Aécio Neves na eleição. O Ministério dos Transportes continuará na cota do PR, mas Paulo Sérgio Passos deverá ser substituído pelo vereador Antonio Carlos Rodrigues.
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