- O Estado de S. Paulo
O prazo de 60 dias estabelecido pela presidente Dilma Rousseff para a conclusão das investigações sobre o uso de computador do Palácio do Planalto para alterar perfis de jornalistas na Internet, cai em 10 de outubro, uma semana após a votação do primeiro turno eleitoral.
Parece estratégico o prazo – e é, se considerado o nível de dificuldade inferior ao tempo para a apuração de um IP – a identidade de um equipamento, que leva ao (s) seu (s) usuário (s). Qualquer que seja o resultado só poderá ter alguma influência num segundo turno eleitoral.
Até lá, o tema fica obstruído pela investigação, que o retira de pauta enquanto durar. A campanha já terá seguido seu rumo, para bem ou mal do governo, cada vez com mais frentes negativas a desafiar o projeto de reeleição.
O governo terá feito seu papel – o de mandar apurar -, já tendo condenado o ato, “doa a quem doer”. Livra-se assim dos efeitos imediatos de um ato de aloprados, um segmento partidário cujo epíteto jocoso ajuda a incorporá-lo ao organismo político, como um mal administrável.
O sentido pejorativo da expressão ajuda a blindar criminosos políticos com a tolerância que se aplica a “meninos peraltas”, que no dizer dos nossos avós não paravam de “fazer arte”. E com essa distorção, uma pérola da manipulação do psicológico coletivo sacada pelo ex-presidente Lula, a turma chegou ao Palácio do Planalto de onde, agora, faz suas “diabruras”.
De certa forma, estimulados não só pelo truque que os tolera, embora sempre condenados moralmente, mas também por senhas permissivas, como a da presidente Dilma de que “em eleição se faz o diabo”.
E é novamente a presidente quem comete o ato falho que denuncia o espírito meramente protocolar da condenação da fraude na Internet por inquilino do Planalto. “É algo que se alguém quiser fazer individualmente, que faça, mas não coloque o governo no meio”.
Ou seja, o erro do elemento que alterou perfis de jornalistas na Internet, na versão presidencial, foi fazê-lo de dentro do Palácio. O ato fraudulento, da inserção da calúnia em perfil público de outrem, é, portanto, algo que só diz respeito ao governo se feito nos seus domínios físicos. Longe deles, não é problema, ainda que feito por aliados, e mesmo sendo condenável.
Aos ouvidos do militante aloprado a condenação presidencial se compara à bronca no menino arteiro que tem mau comportamento na frente das visitas. Fora dos olhos dos pais está liberado para fazer o que não deve. Fora de casa, melhor ainda.
Depois de hesitar na crítica ao episódio, o governo procurou livrar-se do problema alegando que a alteração dos perfis poderia ter sido feita por uma máquina particular, embora dentro do ambiente palaciano, valendo-se do sistema wifi.
Depois disse ser muito difícil localizar o autor, mesmo conhecido o IP de onde partiu a operação digital. Os obstáculos iniciais apresentados parecem seguir um método para justificar agora o prazo de dois meses de apuração, que certamente será contestado pela oposição.
Não é o único episódio em que a presidente tenta afastar de seu governo as ações do PT, com discurso frágil. Também no caso da Petrobrás, o esforço retórico sucumbe ante a realidade dos fatos:
Dilma passou a classificar de factóide o escândalo que ela própria reconheceu como tal, ao atribuir à diretoria da Petrobrás que aprovou a operação de compra da refinaria de Pasadena a omissão de dados que orientariam o Conselho a rejeitá-la.
Se não era factóide antes, não o pode ser depois, quando os desmandos na companhia se mostram mais numerosos e graves na medida em que avançam as investigações nas esferas policial e judicial.
O comportamento errático da presidente indica a dificuldade crescente do governo em administrar a crise, tarefa que lhe foi mais fácil nos tempos da bonança econômica que hoje já não serve como anestesia para o contribuinte.
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