• Aécio admite "realinhamento " de tarifas de energia e gasolina, mas diz que haverá previsibilidade
Julianna Granjeia – O Globo
SÃO PAULO- O candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), admitiu ontem a necessidade de fazer , se eleito, o "realinhamento " dos preços das tarifas de energia e da gasolina. Aécio foi o primeiro presidenciável a participar da rodada de entrevistas do "Jornal Nacional", da TV Globo. Ele também afirmou que haverá "previsibilidade" sobre essas tarifas e descartou pacotes ou "planos mirabolantes" em seu eventual governo. Aécio voltou a dizer que vai tomar as "medidas necessárias" para controlar a inflação.
Confrontado pelo jornalista William Bonner sobre a possibilidade de ajustar os preços, após evitar responder diretamente sobre o assunto, o tucano foi enfático: —No meu governo, vai haver previsibilidade em relação a essas tarifas e em todas as medidas. Ninguém espere no governo Aécio Neves um pacote A, PAC disso, PAC daquilo ou algum plano mirabolante. Nós vamos tomar as medidas necessárias . É óbvio que nós vamos ter que viver um processo de realinhamento desses preços.
Obviamente , quando você tiver os dados sobre a realidade do governo é que você vai estabelecer isso . Eu não vou temer fazer aquilo que seja necessário, as medidas necessárias para controlar a inflação, retomar o crescimento e principalmente a confiança perdida no Brasil — disse.
"No PSDB, condenado não será herói"
Aécio também foi questionado sobre escândalos políticos que envolvem tanto o PT quanto o PSDB e sobre a diferença na abordagem desses casos. No caso dos tucanos, a apresentadora lembrou do mensalão de Minas Gerais e do cartel do metrô em São Paulo.
O senador respondeu que, havendo condenação, o envolvido não será tratado como herói, numa alusão à defesa que petistas fazem dos condenados do mensalão , como o ex-ministro José Dirceu. —O que posso garantir é que, no caso do PSDB, se eventualmente alguém for condenado , não será como foi no PT, tratado como herói nacional, porque isso deseduca.
Portanto , todos os partidos que estão aí têm possibilidade de ter nomes que estejam envolvidos em qualquer denúncias. Apuração e punição , é isso que esperam os brasileiros, independentemente de partido — afirmou Aécio . A apresentadora citou, então , o caso do mensalão mineiro, cujo principal acusado de corrupção , o ex-governador Eduardo Azeredo (MG), apoia Aécio .
O tucano afirmou que não se deve prejulgar e que é preciso esperar a defesa de Azeredo . —Ele está me apoiando, você colocou bem, Patrícia, não é o inverso. É um membro do partido e que tem oportunidade de se defender na Justiça. Vamos aguardar que a Justiça possa julgá-lo e, se condenado, ele vai ser punido.
Mas eu não prejulgo, não prejulguei os petistas, não vou prejulgar os tucanos. O que posso te dizer , e reitero aqui, independentemente do partido político, eu acho que qualquer cidadão tem que responder pelos seus atos. E o Eduardo vai responder pelos deles. Vamos deixar que ele possa se defender . Aécio também foi questionado sobre o aeroporto na cidade de Cláudio (MG), construído nas terras onde a família do senador tem fazenda. Bonner perguntou se Aécio considera republicano construir um aeroporto que poderia ser visto como um benefício para sua família.
O tucano afirmou que a obra foi feita com o objetivo de interligar cidades importantes para o desenvolvimento regional e que sua gestão no governo de Minas Gerais foi transparente: — Nesse caso, especificamente, se houve algum prejudicado, foi esse meu tio-avô (proprietário da área), porque o estado avaliou aquela área em R$ 1 milhão e ele reivindica na Justiça R$ 9 milhões, e não recebeu R$ 1 até hoje.
Foi feito de forma transparente e republicana, e a população daquela localidade sabe a importância desse aeródromo, uma pista asfaltada. Ao ser perguntado se sentia constrangido por ter usado o aeroporto para visitar sua fazenda, Aécio respondeu que não. E disse que ignorava o fato de a pista não estar homologada pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac): — Não, não tenho (constrangimento), até porque eu não sabia que essa pista não estava homologada — disse Aécio.
Bonner o interrompeu e argumentou que não se tratava de uma questão de homologação, mas do uso pessoal do aeroporto construído pelo estado de Minas Gerais. — Eu visitei praticamente todos os aeroportos de Minas Gerais, trabalhando, como governador do estado. E o fato central é esse, que a Anac, porque é muito aparelhada hoje, nós sabemos a origem das indicações da Anac, durante três anos não conseguiu fazer o processo avançar e homologar o aeroporto.
Sobre uma eventual valorização das terras de sua família por causa da construção do aeroporto, Aécio respondeu:
—Olha, essa fazenda a que você se refere é uma fazenda que está na minha família há 150 anos, tem lá 14 cabeças de gado, essa é a grande fazenda. É um sítio que, valorizado ou não, minha família vai eventualmente nas férias . Ali ninguém está fazendo negócio. Essa cidade precisava desse aeroporto , como todas as outras que tiveram investimento em Minas Gerais . Eu nunca, na minha vida inteira, fiz nada que eu não pudesse defender de cabeça erguida. Criou- se em torno desse caso uma celeuma, e você próprio deve estar surpreso , um sítio que nossa parte deve ter 30 alqueires. Algo absolutamente familiar , pequeno, nada a ver com esse aeroporto , até porque nesse local já havia uma pista, eu poderia ter descido numa pista que estava lá há 20 anos — respondeu Aécio .
Críticas de PT e PSB, elogios de tucano mineiro
Ao comentar a entrevista de Aécio no "Jornal Nacional", o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), disse que o tucano não respondeu a nenhuma pergunta de forma direta e que "tergiversou" ao falar sobre o aeroporto de Cláudio. — Ele falou em questão econômica. Mas o que justifica economicamente aquele aeroporto? Agricultura, pecuária? Ele tentou fugir o tempo inteiro — avaliou.
Já o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), criticou a suposta falta de propostas do tucano e disse que Aécio tem dificuldade em se colocar como alternativa.
Já o presidente do PSDB de Minas, deputado Marcus Pestana, elogiou o desempenho de Aécio. Para Pestana, Aécio está num ótimo momento político, e a entrevista foi uma importante forma de falar a um público que ainda não o conhecia: — A atitude e a tranquilidade com que Aécio falou mostraram que o assunto (aeroporto) não é nenhum problema e que fez parte de um projeto legítimo para o estado de Minas Gerais.
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