O Estado de S. Paulo
A crescente desenvoltura do vice Michel Temer deixa o Planalto atônito e funciona como senha para deslanchar dois movimentos que confluem para um mesmo objetivo: o descolamento do PMDB do governo e o alinhamento das oposições pró-impeachment.
Esses dois movimentos ganham consistência e organicidade no Congresso, depois que Temer se lançou como “alguém” capaz de reunificar o País, abandonou a coordenação política, não cedeu ao apelo posterior da presidente Dilma Rousseff para recuar, estrelou peças de cunho oposicionista do PMDB nas TVs e, agora, aos olhos do Planalto, só anda em “más companhias”.
Quanto mais Temer se encontra com Paulo Skaf (Fiesp) – e os dois se encontram toda hora, em Brasília e em São Paulo –, mais Skaf assume a postura de líder da oposição: critica a política econômica, pede abertamente a cabeça do ministro da Fazenda e, entre quatro paredes (por enquanto), mete o sarrafo no governo Dilma.
Cá para nós, e por que o vice-presidente tinha de se meter num evento da socialite Rosangela Lyra numa hora como essas? Por mais que ela diga que o movimento Política Viva é suprapartidário e não tem nada a ver com o Acorda Brasil – que, aliás, “não é um movimento antigoverno” –, a impressão geral é outra.
Entre os oito convidados anteriores, quatro são do PSDB, um é ex-PSDB, um outro é Ronaldo Caiado e não houve um só petista ou dilmista da base aliada. Rosângela Lyra pode até não ser antigoverno, mas bem que parece ser. O Política Viva pode até não ser tucano-oposicionista, mas bem que parece ser. E o Acorda Brasil pode até não ser pró-impeachment, mas bem que parece ser.
Temer certamente sabia disso, como sabia que o Planalto, as oposições e a mídia também sabiam. Logo, ele assumiu o risco de cabeça fria, com todos os cálculos feitos e convencido de que valia a pena dar essa sinalização. Não satisfeito, encerrou com fecho de ouro a aventura.
Como quem não quer nada, Temer disse no evento que “é muito difícil” uma presidente com 7% de popularidade se sustentar mais três anos e meio. É uma constatação óbvia, lógica como uma equação simples: se um(a) presidente é aprovado(a) só por 7%, logo ele(a) não tem apoio de 93% e pode cair. Mas... em política e na diplomacia, você não diz tudo o que pensa nem o que parece óbvio, mas não é conveniente. Nada mais inconveniente do que o vice, beneficiário direto da eventual queda da presidente, dizer uma coisa dessas, numa hora dessas e num ambiente desses.
Como Temer não tem nada de bobo, supõe-se que ele foi até lá e disse o que disse para mostrar que não vai fugir da guerra e, assim, mobilizar e deixar as tropas de prontidão para segui-lo. É por essas e outras que PSDB, DEM, PPS, PSC, Solidariedade e parte do PMDB decidiram dar organicidade e consequência ao movimento pelo afastamento de Dilma. Eles contam que, a um sinal de Temer, o PMDB estará pronto e unido para romper com o governo e cerrar fileiras pela posse do vice.
Isso vai crescer a partir deste 7 de Setembro, quando novas ações anti-Dilma estão sendo convocadas via internet, agora com a inestimável (para eles) contribuição de Helio Bicudo, um dos fundadores do PT, que acaba de protocolar mais um pedido de impeachment.
Como unificar algo assim sem OAB, CNBB, UNE e outros que lutaram contra Collor e hoje marcham com Dilma? Na avaliação do grupo pró-impeachment, essas organizações perderam força política, não têm mais líderes como um Barbosa Lima Sobrinho e viraram de costas para as ruas. Logo, estão perdendo o bonde da história.
Até aqui, porém, a oposição e os defensores do afastamento de Dilma apenas traçam estratégias. Se o governo parece “estar desmilinguindo”, como diz FHC, a possibilidade de impeachment ainda assusta e parece mais distante do que querem acreditar os anti-Dilma do Congresso. Apesar de tudo.
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