sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Calendário político orienta nova onda de ataques a Levy – Editorial / Valor Econômico

Meses de impasse político e declínio econômico eliminaram as margens de manobra de um governo que se tornou impopular. A presidente Dilma Rousseff e o PT têm baixa capacidade de liderar a saída para as duas crises, enquanto que um inevitável desgaste mina os protagonistas. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está de novo sob ataque dos petistas, liderados pelo ex-presidente Lula, e parlamentares de vários partidos que atribuem-lhe um fracasso que não é dele, mas da presidente e de todo o governo. O ajuste fiscal foi desidratado no Congresso, com o auxílio de 12 partidos da base governista que hoje na Comissão de Ética apoiam Eduardo Cunha, envolvido até o nariz em denúncias de corrupção.

Com exceção do PT, há quase consenso de que o ajuste fiscal é o primeiro passo para devolver dinamismo à economia. O PMDB tirou do colete uma agenda liberal pura que radicaliza o ajuste e o PSDB, apesar de igualmente solapar as medidas do governo nesse sentido, sabe que elas são um ponto de partida necessário, mas não suficiente. Joaquim Levy não mudou seu discurso desde que entrou no governo e esse discurso, que já não era agradável dentro do governo, onde sempre esteve isolado, não poderia ser agradável fora dele, onde os interessados revelaram-se mais preocupados em, por ação ou omissão, ver se o impeachment da presidente prosperaria ou não.

Esse fogo cruzado de forças sobre as quais Levy não tem a menor influência, exceto pela tentativa racional de persuasão, chamuscou o ministro, e, mais que isso, limitou o alcance de sua política e os meios de atingi-la. Dessa forma, os acertos devem ser debitados à sua persistência e os percalços, à fraqueza política do governo. No vale-tudo da disputa política, inverteu-se a lógica: os fracassos estão sendo atribuídos à política do ministro, que não pode ser testada em sua concepção original.

Nesse clima polarizado, as críticas de Lula se emaranharam nas de outros partidos para culpar Levy por não ter apresentado todos os passos de sua política econômica de uma só vez, o que é pura hipocrisia interessada. Os petistas, que não o apoiam, reclamam, como Lula, da falta de medidas para o crescimento em seus discursos, quando de fato não toleram é o ajuste. Senadores de diversos partidos que censuraram o ministro em jantar essa semana, não fizeram melhor: cobraram dele "reformas estruturantes" algum tempo depois de aprovarem pautas-bombas. Sem escoras políticas no governo ou fora dele, a nau de Levy está à deriva há algum tempo, assim como o ajuste fiscal que ele defende 24 horas por dia.

Como o calendário eleitoral desespera o PT - uma grande sova nas eleições municipais de 2016 é mais que provável - e o candidato ao Planalto em 2018, Lula, o ex-presidente resolveu tentar mudar o quadro político com fatos novos, unindo traços de um programa fracassado, como o da nova matriz econômica, a um improvável candidato a executá-la, Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central em seus dois governos. Lula associou o "falcão" dirigente de um BC ortodoxo a ideias como novos estímulos creditícios e moedas de troca irresponsáveis, como o aval a empréstimos externos a Estados e municípios. Em comum há o fato de que as duas medidas são prejudiciais à economia e que jamais passaram pela cabeça de Meirelles, a julgar pelos artigos que assina na "Folha de S. Paulo".

Levy está correto ao dizer que há muita afinidade entre ele e Meirelles. Ambos são ortodoxos e se distinguem talvez por nuances. Mas uma diferença relevante é que Meirelles gosta do poder e é um político com trânsito - elegeu-se pelo PSDB, transferiu-se para o PMDB e hoje é filiado ao anódino PSD de Gilberto Kassab. Além disso, o fato de chegar ao governo pelas mãos de Lula dá-lhe mais chances do que tem Levy de obter respaldo político. O diagnóstico para a solução da crise, porém, não é diferente do de Levy.

Meirelles é pragmático, a ideia de ser ministro da Fazenda o cativa, mas não a qualquer custo. Se não bastasse a gravidade das crises, não é visto com simpatia pela presidente Dilma. No BC, entregou a Lula o que prometeu porque tinha carta branca. Na Fazenda, ainda mais com Dilma, o jogo é bem diferente. Lula e mais gente reclamam da cantilena sempre igual de Levy, que não dá esperanças sobre o futuro. Com Meirelles, muda a melodia, mas não a letra. Como uma enorme crise de confiança trava a economia, Meirelles pode até ir para a Esplanada, mas essa não é uma negociação fácil nem de êxito garantido.

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