- Folha de S. Paulo
"Para analistas, crise política pode alcançar 2018"; "Crise leva famílias de classe média de volta às camadas de menor renda"; "Crise afeta folia e cidades da região cancelam Carnaval"; "Crise desfaz planos de vida e de carreira". Essas são manchetes recentes de jornais que recolhi meio a esmo no Google.
O quadro não é animador, mas será que já devemos desfazer nossos planos de vida? Seres humanos não somos os melhores analistas de risco. Nossos vieses cognitivos fazem com que sejamos incorrigivelmente otimistas em relação a nós mesmos –93% dos americanos se julgam motoristas mais hábeis que a mediana– e verdadeiras aves de mau agouro no que concerne a situações sobre as quais não temos controle, como se depreende das manchetes acima.
O arranjo é estranho, mas faz sentido evolutivo. A autoconfiança, mesmo desmedida, pode ajudar nas atividades em que o desempenho individual afeta diretamente o resultado. Já o pessimismo com o que não depende de nós faz com que nos preparemos para o pior, o que também pode ser útil para a sobrevivência.
Se a análise é correta e esses vieses estão em plena operação, é grande a chance de os governantes estarem diminuindo o tamanho da crise e nós, cidadãos comuns, o magnificando.
No que diz respeito aos dirigentes, acredito que seja este o caso, como se conclui da leitura do artigo de Dilma Rousseff publicado na Folha e da entrevista que o ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, deu ao jornal. Ambos ainda parecem viver num mundo à parte, no qual os principais responsáveis pela crise são a queda das commodities, a desaceleração da China e, é claro, a oposição, que teima em não aceitar o resultado das urnas.
Quanto aos cidadãos comuns, é bem possível que estejamos exagerando nas expectativas negativas, mas, ao fazê-lo, apenas distorcemos um pouco o mundo real, sem nos transportar para a dimensão paralela para a qual o governo foi abduzido.
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