Daniela Lima – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Considerado o último obstáculo ao desligamento completo do PMDB do governo Dilma Rousseff, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse a aliados que considera o impeachment a "saída mais traumática" para a crise, mas prega que qualquer outra alternativa passa obrigatoriamente pela diminuição dos poderes da petista no Planalto.
A narrativa vai ao encontro da ofensiva que ele deflagrou ao lado do senador José Serra (PSDB-SP) na semana passada em nome da implantação do "semipresidencialismo" no Brasil.
Aliados de Renan dizem que a mudança poderia ser uma "saída honrosa" para a petista, que, para evitar o impeachment, teria que aceitar dividir seus poderes com a figura de um primeiro-ministro escolhido pelo Congresso.
Haveria ainda outra opção para reduzir a influência de Dilma nos rumos do governo: a entrada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um ministério.
Segundo pessoas próximas, Renan acredita que o ingresso de Lula poderia dar alguma sobrevida à gestão do PT.
Isso, no entanto, só aconteceria se o ex-presidente tivesse carta branca para fazer mudanças profundas, o que, na prática, também significaria esvaziar Dilma.
Há, nesse cenário, um problema, admitem aliados do peemedebista. Lula vem sendo alvejado por investigações sobre sua conduta, assim como o próprio Renan, que é alvo da Lava Jato.
A incógnita que cerca os desdobramentos da operação faz com que Renan se mantenha em posição dúbia sobre o petista.
Na última semana, o presidente do Senado deu duas demonstrações dessa hesitação.
Primeiro, logo após tomar um café da manhã com o ex-presidente, disse à imprensa que planejava também se reunir com os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Sarney (PMDB) para ouvi-los sobre o cenário nacional.
Com isso, Renan sinalizou que, se era para ouvir ex-presidente, ouviria todos. Logo depois, no mesmo dia em que esteve com Lula, jantou com a cúpula do PSDB no Senado.
Do encontro surgiu a primeira sinalização formal de que o PMDB e os tucanos vão "trabalhar juntos para encontrar uma saída para a crise".
Preferência
Por isso, aliados dizem que a alternativa preferida de Renan é a adoção do semipresidencialismo, modelo que prevê a divisão dos poderes do Executivo entre o presidente eleito pelo voto direto e a figura de um primeiro-ministro escolhido pelos parlamentares. Nesse caso, o presidente teria mais poderes do que no parlamentarismo puro.
O presidente do Senado reconhece que a articulação de uma medida desse porte é complexa, mas diz que só um grande acordo político poderia frear a crise.
O problema é que a oposição, de quem Renan tem se aproximado, não cogita mais a manutenção de Dilma no poder.
Nesse caso, a mudança ocorreria sob a batuta do vice, Michel Temer, que assumiria o país caso a petista deixe o comando do Planalto.
Temer disse a aliados que não se opõe à ideia e toparia bancar a condução das discussões, mas não pretende permitir que a mudança se consolide em sua gestão.
Colaborou Mariana Haubert, de Brasília
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