• Para Cunha Lima, ideia de eleições gerais não vai prosperar e Dilma deveria deixar Alvorada durante afastamento
Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Líder do PSDB no Senado, o senador Cássio Cunha Lima (PB) diz nessa entrevista ao Estado que a proposta de novas eleições gerais, que é defendida por um grupo de senadores, pela ex-ministra Marina Silva, líder da Rede, e por parte do PT, não tem como prosperar. O senador tucano também defende que a presidente Dilma Rousseff deixe o Palácio do Alvorada no período de julgamento final do impeachment e adianta pontos do programa que o PSDB apresentará na terça-feira, em Brasília.
• O que acha da proposta de se realizar eleições gerais diretas?
Durante esse processo todo o PSDB sempre defendeu dois caminhos para a solução dessa grave crise: impeachment ou o julgamento, pelo TSE, o que levaria a cassação da chapa e provocaria novas eleições. As mais recentes revelações da Lava Jato comprovam, de forma definitiva, que a eleição da presidente Dilma Rousseff foi uma verdadeira fraude. Ocorre que nenhuma dessas opções estavam sob nosso controle. O processo do impeachment avançou mais e passou a ser o foco prioritário, sem prejuízo das ações do TSE, a quem pertence a ação.
• Acha que a ideia de novas eleições pode prosperar?
Só existe um lugar onde se pode solicitar novas eleições, o Tribunal Superior Eleitoral. Não há na Constituição a possibilidade de abreviar mandatos por uma maioria eventual no parlamento.
• A expectativa entre governistas e o PT é de que a presidente permaneça no Alvorada nos 180 dias anteriores ao julgamento definitivo no Senado. Seria um foco de resistência. O impeachment pode levar a um confronto?
Essa atitude prova o desamor e o descompromisso que a presidente Dilma Rousseff e o PT têm com o País. É como se não bastasse eles serem os responsáveis diretos por essa que é a maior crise em nossa história, impondo sofrimento intenso para milhões de brasileiros. Estão preocupados tão e somente com seu projeto político. Não tem a menor grandeza de contribuir com a saída da crise. Muito pelo contrário. Querem aprofundá-la ainda mais para tentar sobreviver na oposição. Eles voltam a ser o velho e conhecido PT de sempre, que a vida inteira trabalhou para o quanto pior melhor.
• Dilma deve deixar o Alvorada nesse período?
Deveria sim, até porque ela será afastada em caráter definitivo pelos crimes de responsabilidade. A sociedade irá repudiar o fato dela gastar dinheiro do povo brasileiro em uma residência pública para tão e somente fazer politicagem e tentar criar um quadro maior de instabilidade para sobreviver na oposição. Querem fazer o que sempre fizeram: trabalhar contra o Brasil e os brasileiros para tirar proveito político de uma crise.
• Quais as dificuldades de gestão deve enfrentar um governo com carimbo de interino?
O desafio será abrir uma interlocução com sociedade, trabalhadores e empresários para a construção de uma pauta de reformas e mudanças que possa devolver ao País um mínimo de credibilidade para que a economia volte a funcionar. A economia está parada aguardando o desfecho desse processo.
• O sr. defendeu no Fórum Empresarial, na semana passada, que políticos filiados a partidos e com mandato não deveriam assumir ministérios. Mantém a posição?
Naquele momento eu estava respondendo a uma proposta que julgo equivocada, com todo respeito que tenho ao deputado Silvio Torres (PSDB-SP). Ele sugeriu que membros do PSDB teriam que se licenciar do partido para ocupar cargos. Se assim fosse, seria melhor que o vice-presidente criasse uma regra que mandatário não exercesse cargos. Foi uma alternativa a uma proposta equivocada.
• Havia maioria no PSDB naquele momento contra participar de ministérios. O cenário mudou?
O que houve foi o início de uma relação institucional. O que nós combatíamos era a coalizão feita na base do toma lá, dá cá, do fisiologismo ou das cooptações individuais. Tive a oportunidade de me encontrar com o vice-presidente e disse que o que o PSDB esperava era que o PMDB não fizesse conosco o que o PT fez com o próprio PMDB. Ou seja: queremos uma mudança na forma de coalizão política. Não está escrito em lugar nenhum que partido para apoiar governo precisa ter ministério. Isso gera uma profunda distorção. A questão dos cargos não é a preocupação central do PSDB. Não é papel dos partidos empurrar goela abaixo indicações. Foi essa distorção que levou o País ao mensalão e ao petrolão.
• O compromisso de Temer de acabar com a reeleição foi determinante para a posição do PSDB?
De forma alguma. O que é determinante para o PSDB é a contribuição para a formação de um governo de salvação nacional, com caráter suprapartidário. Não estamos diante de uma crise comum. Estamos vivendo a pior e mais grave crise da história do Brasil. Vamos deixar de lado, pelo menos por enquanto, projetos partidários para 2018.
• As pedaladas fiscais podem abrir precedente para a cassação de governadores?
Para pedalar é preciso ter bicicleta. Os Estados não têm mais bicicleta. Os bancos estaduais foram liquidados. Na Paraíba isso aconteceu na década de 1990. Os bancos foram liquidados exatamente porque eles faziam pedaladas. O governo federal liquidou esses bancos. Imaginava-se que essa prática não existia mais, mas voltou a existir, para a surpresa de todos, através da própria União.
• Temer se comprometeu com vocês a não recriar a CPMF ou criar novos impostos?
Na conversa que tivemos com ele, tratamos dessa relação institucional, mas não chegamos a aprofundar essa discussão. Na próxima terça-feira, o PSDB apresentará ao povo brasileiro um princípio de valores. Nós reafirmaremos nossa posição contrária a qualquer aumento de carga tributária. O ajuste passa pela contenção de gastos e não pelo aumento de impostos.
• Há necessidade de cortar os programas sociais?
Vou antecipar alguns pontos do que vamos apresentar dia 3. Um deles é a manutenção dos programas sociais, com sua necessária qualificação e combate a fraudes. Apoio às investigações, e não apenas da Lava Jato, mas também de outras em curso. A necessidade de uma simplificação tributária, para criar um ambiente de maior produtividade na economia. O PSDB defenderá a manutenção dos programas sociais, que inclusive nasceram no governo Fernando Henrique Cardoso e foram ampliados no governo do presidente Lula.
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