- O Estado de S. Paulo
Como ninguém espera redução dos juros básicos (Selic) na reunião que o Copom realiza nesta quarta-feira, o mais importante seria o conteúdo do recado que fosse passado pelo Banco Central sobre o que pretende de sua política nos próximos sete ou oito meses ou, como prefere dizer nos seus papéis, “no horizonte relevante”.
O problema é que esse recado está prejudicado pelas circunstâncias. Ninguém sabe quem estará no comando do Banco Central já nos próximos dois meses e que tipo de política monetária pretenderá executar.
Se a presidente Dilma for afastada por um prazo máximo de 180 dias, ou até que o plenário do Senado sob o comando do presidente do Supremo decida o destino do impeachment, a Presidência da República será exercida pelo vice, Michel Temer. E este ou manterá a atual diretoria do Banco Central ou esperará pelo período máximo de 180 dias até que saia a decisão final. Ainda que mantenha provisoriamente a atual diretoria, fica difícil antecipar eventuais mudanças tanto na política monetária (política de juros) como na política cambial.
Mesmo quem espera que, no período de transição, o Copom tome uma decisão técnica, será impossível prever o que acontecerá alguns meses depois.
Esse problema não haveria se o Banco Central fosse uma instituição perfeitamente autônoma. Nesse caso, seus diretores teriam mandato fixo, em princípio não receberiam orientações superiores e somente poderiam ser demitidos caso fosse comprovada falta grave. Os mandatos dos dirigentes de um banco central independente não coincidem com os dos demais dirigentes do governo, qualquer que seja ele. Assim, estariam livres para definir a política de juros mais adequada para empurrar a inflação para dentro da meta, esta sim, estabelecida pelo governo que estivesse no comando.
Mesmo diante dessas incertezas, as projeções do mercado auferidas pela Pesquisa Focus do Banco Central indicam redução dos juros básicos até o fim de 2016, dos atuais 14,25% ao ano para 13,25% ao ano. Este não é mero palpite de conversa de bar. É o número com que trabalha o mercado e nisso mete dinheiro grosso, especialmente nas suas operações no mercado futuro de juros.
Essa aposta, digamos assim, leva em conta que a maior parte dos efeitos inflacionários produzidos pelo ajuste dos preços administrados (aqueles que ficaram atrasados ao longo de 2013 e 2014, como tarifas de energia e dos combustíveis) já acabou. E, também, que a nova tendência do câmbio não será mais a puxada das cotações para acima dos R$ 4 por dólar, fator que também aumentaria a inflação. Mas este não é um quadro à prova de instabilidades.
O resumo da ópera é o de que qualquer recado mais contundente do Banco Central sobre o comportamento futuro dos juros estará sujeito não só às decisões que forem tomadas sobre o impeachment, mas também à composição (e orientação) que vier a ser dada à equipe econômica, da qual o Banco Central é parte integrante.
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