Por Andrea Jubé e Lucas Marchesini – Valor Econômico
BRASÍLIA - Nas conversas que manteve com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem e na segunda-feira, a presidente Dilma Rousseff discutiu a estratégia de encabeçar o movimento a favor de novas eleições presidenciais neste ano. Dilma e Lula avaliam essa possibilidade, caso a maioria dos senadores determine o seu afastamento da Presidência, em sessão prevista para 11 de maio.
Outro plano que está sendo alinhavado é impedir sua condenação no impeachment e reconduzi-la ao cargo, caso os senadores julguem que não se configurou o crime de responsabilidade atribuído à petista. Para isso, Dilma precisa de 28 votos contrários, abstenções ou ausências.
Dilma e Lula têm consciência de que a admissibilidade do impeachment, que implica o afastamento da presidente do cargo, é fato consumado no Senado. Mas não a sua eventual recondução, embora o ex-presidente considere essa hipótese como "remota".
Para bater o martelo sobre a proposta de liderar o movimento pelas novas eleições presidenciais, Dilma gostaria que os movimentos sociais encampassem a ideia. Há resistência em sua base social, e o tema foi debatido em reunião com lideranças da Frente Brasil Popular e do movimento Povo Sem Medo no Palácio do Planalto na segunda-feira, da qual também participaram Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, além dos ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Gabinete Pessoal da Presidência).
Ainda refratária à proposta, Dilma considerava avalizar o projeto até mesmo em caso de vitória no Senado, no julgamento do mérito do impeachment, o que deve ocorrer até novembro. Neste caso, ela encaminharia a emenda constitucional ao Congresso, convocando novas eleições, como solução para encerrar a crise política.
Mas diante do risco de que, sendo afastada, não consiga voltar ao Planalto Dilma, Lula e o PT consideram antecipar o envio da emenda pelas novas eleições antes de seu eventual afastamento, em 10 ou 11 de maio.
A ideia de que Dilma encabece o movimento por novas eleições ganhou fôlego após a divulgação da recente pesquisa Ibope, em que 62% dos brasileiros apoiam a realização de um novo pleito presidencial. Segundo o mesmo levantamento, apenas 8% avalizam a posse do vice-presidente Michel Temer no lugar de Dilma, em caso de impeachment.
Ontem o ex-presidente Lula foi ao encontro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a expectativa de discutir o rito de tramitação do impeachment e sondar o pemedebista sobre a ideia de novas eleições. No início deste mês, Renan manifestou simpatia pela ideia, afirmando que enxergava "com bons olhos essa coisa da eleição geral". Depois de se reunir com Lula, Renan se encontrou com a presidente Dilma no Planalto.
Mas após a reunião com Lula, Renan negou que tenham discutido o projeto de novas eleições. O pemedebista ponderou que, neste momento, essa proposta implicaria a renúncia de Dilma e Temer, o que não está no horizonte do PMDB. "Ele [Lula] demonstrou muita preocupação com os desdobramentos da crise política e defendeu valores democráticos pelos quais ele sempre lutou", disse Renan à imprensa. "Eu reforcei o papel histórico do Senado, meu esforço para ampliarmos a previsibilidade política e constitucional" do impeachment, completou.
Em qualquer cenário - liderando ou não o movimento por novas eleições -, Dilma decidiu que sairá às ruas para enfatizar e ecoar o discurso de que é vítima de um "golpe". Ela participará, ao lado de Lula, de ato comemorativo do dia 1º de Maio, comandado pela Frente Brasil Popular, da qual faz parte a Central Única dos Trabalhadores (CUT), no Vale do Anhangabaú em São Paulo.
Dilma também avalia fazer um pronunciamento no dia 1º de Maio, em rede de rádio e televisão, quando poderia anunciar, por exemplo, o reajuste do Bolsa Família. Mas isso ainda está em estudo no governo. (Colaboraram Fabio Murakawa e Vandson Lima)
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