A escolha de um ex-ministro do governo Dilma para concorrer à presidência da Câmara pelo PMDB aumentou a incerteza sobre a eleição de hoje. O nome de Marcelo Castro preocupou o Planalto. Do partido de Michel Temer, ele votou contra o impeachment. À noite, também Miro Teixeira (Rede-RJ) registrou candidatura, a 14ª na disputa.
PMDB embola disputa
• Lançamento de candidato que votou contra impeachment torna eleição imprevisível
Isabel Braga - O Globo
-BRASÍLIA- Na véspera da eleição para a presidência da Câmara, o surgimento do candidato oficial do PMDB aumentou a incerteza do resultado. A avaliação inicial é que a candidatura de Marcelo Castro (PI), escolhido ontem pela bancada do partido, pode levar boa parte dos votos da nova oposição, especialmente do PT e do PCdoB, afetando a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ). Castro foi ministro da Saúde do governo Dilma Rousseff e votou contra o impeachment da presidente afastada.
O movimento do PMDB, no entanto, levou os partidos da antiga oposição — PSDB-DEM-PPS e PSB — a agir: Júlio Delgado (PSB-MG) retirou sua candidatura. A tendência do PSDB agora é apoiar Rodrigo Maia, unindo essa parcela da base aliada de Temer contra a candidatura mais forte do centrão, a de Rogério Rosso (PSD-DF).
A eleição está marcada para a tarde de hoje. com o início da sessão previsto para as 16h. O número elevado de concorrentes deve fazer com que a definição só ocorra na madrugada de amanhã. Até a noite de ontem, 14 deputados haviam registrado suas candidaturas.
O último foi o decano da Câmara, Miro Teixeira (Rede-RJ), com 11 mandatos. Ele próprio disse se tratar de uma “anti-candidatura”. O eleito comandará a Câmara num mandato-tampão de pouco mais de seis meses, até fevereiro do próximo ano.
— Obviamente, a candidatura do PMDB deu uma mexida no tabuleiro da eleição, mas trabalhamos a unidade do nosso grupo, a união informal dos partidos da antiga oposição. E vamos aguardar o segundo turno para conversas com o PMDB — afirmou o líder do DEM, Pautado derney Avelino (AM).
Rodrigo Maia manteve as críticas a Rosso, mas também alfinetou o lançamento da candidatura peemedebista:
— Uma candidatura não cai do céu. Não sei (qual a estratégia). O PMDB é um partido experiente. Ainda tento entender o que aconteceu. Estamos conversando, mas a aliança (do DEM) com o PSDB é natural, é mais fácil. O que precisa explicar é mais difícil. Esse campo (os quatro partidos da antiga oposição) juntos, com paciência e inteligência, é o único organizado para ganhar a eleição — afirmou Maia.
PT ainda não declarou apoio a um candidato
Juntos, PSDB, DEM, PPS e PSB têm 119 deputados. Os defensores da candidatura de Maia creem que ele poderá agregar votos em outras bancadas, chegando a 150, garantindo assim a ida ao segundo turno.
Há, porém, quem aposte que Maia não leve todos os votos desses partidos. No PSDB, por exemplo, há simpatia por outro candidato do centrão: Esperidião Amin (PP-SC). Os tucanos criticaram a candidatura de Marcelo Castro, por achar que ela representará uma vitória do expresidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A nova oposição, liderada pelo PT, ainda não oficializou seu apoio a uma das candidaturas, mas muitos deputados petistas, do PCdoB e até do PDT elogiaram a entrada de Marcelo Castro no páreo. Líder da minoria, Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o perfil do candidato que esses partidos apoiarão está definido: ter votado contra o impeachment, ser anti-Cunha, garantir a volta à normalidade e respeitar a democracia na Casa.
— Marcelo Castro tem um lastro de ter enfrenCunha em todos os momentos na Casa. Planalto e Cunha eram contra Marcelo Castro na disputa. Castro sai com uma candidatura contra Cunha e o centrão. Por isso, todas as bancadas rediscutirão os apoios — disse Jandira.
Entre os partidos da esquerda, há os que analisam com certa desconfiança a guinada dos peemedebistas, ao lançarem oficialmente um candidato. Até ontem, a decisão do PMDB era não ter candidatura própria. Na visão de alguns deputados da esquerda, essa pode ser uma manobra do centrão e do PMDB, com possível apoio do Planalto, para tirar Rodrigo Maia da disputa no segundo turno — e assim viabilizar a vitória de Rosso, do grupo ligado a Cunha.
No centrão, além da candidatura de Rosso, o nome de Fernando Giacobo (PR-PR) aparece com força. Ele conta com o apoio do presidente de fato do partido, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, que negocia apoio com petistas. Mas Giacobo também pode ter sido prejudicado pela entrada de Castro na disputa.
Ontem, Marcelo Castro negou ser o candidato anti-Cunha e que tenha recebido o apoio do ex-presidente Lula. O ex-ministro da Saúde disse que é candidato a favor da Câmara, afirmou torcer para ter o voto de petistas e da esquerda e classificou sua candidatura como “um alívio” para o governo Temer. Para Castro, o correto é o governo não interferir na disputa.
— Serei o candidato do Parlamento. Um Parlamento nem submisso, nem arrogante — disse Marcelo Castro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário