quarta-feira, 13 de julho de 2016

Ajuste das contas externas segue em ritmo acelerado – Editorial / Valor Econômico

O Banco Central (BC) acaba de reduzir ainda mais a previsão do déficit das contas externas deste ano, que pode marcar o melhor resultado desde 2007. O Banco Central projeta agora que o déficit em conta corrente pode terminar o ano em US$ 15 bilhões, o equivalente a 0,87% do Produto Interno Bruto (PIB). Em março, o BC acreditava que o déficit ficaria em US$ 25 bilhões e, em dezembro, a estimativa era de nada menos do que US$ 41 bilhões. Fontes do mercado ouvidas pelo Valoravaliam que o déficit pode diminuir ainda mais, e ficar praticamente zerado. Se a previsão se confirmar, terá sido um dos mais rápidos e expressivos ajustes da história. Há pouco mais de um ano, em abril de 2015, o déficit estava em preocupantes 4,5% do PIB e, em maio passado, de 1,7%. Foi um ajuste de cerca de US$ 90 bilhões em apenas dois anos, calculam especialistas.


O ajuste das contas externas é uma das raras boas notícias no cenário econômico, embora esteja sendo produzido por motivos negativos, a recessão e a desvalorização da moeda. A recessão econômica achata a produção e as vendas e aumenta o desemprego, causando a redução das importações, das viagens ao exterior e das remessas de lucros e dividendos, por exemplo, ao mesmo tempo em que expande as exportações. A forte depreciação do real também contribuiu para reduzir os gastos no exterior, seja com importações ou viagens.

A maior correção de rota está ocorrendo na balança comercial, que pode fechar o ano com superávit de US$ 50 bilhões, cinco vezes maior do que os US$ 10 bilhões esperados no início do ano. O Banco Central trabalha com um número superior até que foi projetado pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic), quando anunciou que a balança comercial fechou com saldo positivo de US$ 23,6 bilhões no primeiro semestre. Ao rever os números, o BC justificou que as importações serão menores do que esperava e devem somar US$ 140 bilhões, enquanto as exportações vão manter os US$ 190 bilhões.

A previsão para o déficit na conta de serviços também foi reduzida ligeiramente na mais recente revisão, de US$ 28,6 bilhões para US$ 28,3 bilhões com a diminuição dos gastos como aluguel de equipamentos e viagens ao exterior. Com a elevação do dólar, queda da renda e maior desemprego as despesas com viagens ao exterior, que chegaram ao recorde de US$ 18,7 bilhões gastos em 2014, devem ficar em um terço disso neste ano, ao redor de US$ 6 bilhões, praticamente a metade do déficit de US$ 11,5 bilhões de 2015.

Na conta financeira, o BC aumentou em US$ 10 bilhões a projeção de ingressos líquidos de investimentos diretos no país (IDP), que deverão atingir US$ 70 bilhões, quase cinco vezes mais do que o necessário para financiar o déficit projetado para as transações correntes. Assim, o país praticamente não precisará dos capitais mais voláteis dos investimentos em carteira para financiar suas transações com o resto do mundo, mesmo porque esse dinheiro minguou, apesar dos juros domésticos elevados, e essa conta vai registrar saídas US$ 12,5 bilhões superiores às entradas. A projeção para a taxa de rolagem dos empréstimos diretos e títulos de renda fixa negociados no exterior recuou de 100% para 60%. Nos cinco primeiros meses do ano ficou em 46%. A partir de junho, deve aumentar com a menor quantidade de vencimentos e as melhores condições de mercado.

Não há consenso entre os economistas a respeito de qual fator está pesando mais na recuperação das contas externas, a recessão ou o câmbio. Tanto é que a recente valorização do real não impediu o Banco Central de ampliar as previsões de superávit da balança comercial e reduzir o déficit em conta corrente. É verdade que setores da indústria já se queixaram da redução das margens e do receio de perder mercados externos; por outro lado, fornecedores de alguns produtos básicos têm se beneficiado de uma certa recuperação dos preços. Além disso, a própria melhora da percepção do risco do país acaba atraindo mais investimento estrangeiro e contribui para a elevação do real.

Já se antecipa ainda que a recuperação da economia brasileira, que deve começar a dar sinais no próximo ano, voltará previsivelmente a ampliar o déficit em conta corrente, com o aumento das importações e dos gastos com serviços e a redução do superávit comercial e maiores gastos com serviços. Mas, espera-se, que fique em um patamar confortavelmente financiável.

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