- Folha de S. Paulo
É possível ver com algum otimismo a disputa pela presidência da Câmara dos Deputados. A desorganização desse pleito atingiu níveis tão elevados que já não parece descabido imaginar líderes partidários defendendo uma reforma política e eleitoral para valer.
Nesta terça-feira (12), a Casa registrava mais de dez deputados dispostos a ocupar o lugar deixado vago por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em eleições anteriores, mesmo considerados os parlamentares inscritos na última hora, contavam-se os nomes com os dedos de uma mão.
Devido à superoferta de candidaturas, muitos deputados ficarão sem saber quem apoiar abertamente. Não são poucos os que se decidem apenas quando um determinado postulante se revela franco favorito. Haverá, portanto, uma divisão na base aliada.
Não que esse tipo de situação seja inédita. Em 2007 e 2011, os petistas Arlindo Chinaglia (SP) e Marco Maia (RS) sofreram com a falta de apoio de integrantes da coalizão governista.
Agora, porém, a confusão é muito maior. Tome-se o PMDB. Michel Temer preferia que seu partido não tivesse nome próprio na eleição —justamente para evitar a pulverização da disputa. Em vão. Não só a sigla lançou um competidor como escolheu Marcelo Castro (PI), o deputado que foi ministro da Saúde no governo Dilma (PT) e votou contra o impeachment da presidente afastada.
Dificuldade de entender o sistema e impossibilidade de decidir racionalmente entre os muitos candidatos, dada a ausência de diferença programática entre boa parte deles —eis aí dois fardos que o brasileiro há muito carrega em anos eleitorais.
Esses problemas não deixarão de existir sem uma reforma política, mas sempre se disse que a reforma política não existirá enquanto os legisladores forem os principais beneficiários das normas em vigor.
Essa percepção pode começar a mudar a partir de agora. Ao menos os deputados terão sentido na própria pele o que sente todo eleitor.
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