Por Andrea Jubé - Valor Econômico
BRASÍLIA - Com a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para o comando da Câmara dos Deputados, o presidente interino Michel Temer se ocupa, agora, de reunir os estilhaços de sua base de apoio e cuidar das feridas de grupos de aliados. Preocupado com a votação de matérias relativas ao pacote fiscal, Temer tem exaltado a necessidade de coesão da base aliada, mas no novo cenário, ele ainda terá de administrar uma iminente guerra de vaidades, face ao período de superexposição que favorecerá Maia nos próximos meses.
Em agosto, Maia comandará o processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e em setembro, assumirá a Presidência da República. Se o impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff for confirmado em agosto, como esperam os aliados do interino, Temer embarca no início de setembro para a reunião de líderes mundiais do G-20, em Hangzhou, na China. Ele outras viagens internacionais no radar: para Estados Unidos, Argentina e México, ocasiões em que Maia assumirá a chefia do Executivo.
O impacto da iminente explosão da imagem de Maia acabou evidenciado ontem, quando Temer recebeu o recém-eleito no Planalto. O presidente da Câmara chegou em comitiva, junto com o presidente do Congresso Nacional, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), o líder do governo, deputado André Moura (PSC-SE), e o líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA). Todos posaram para a foto com Temer e Maia.
Representante do Centrão, ligado ao candidato derrotado, o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), Moura apressou-se para compor o grupo de Maia. Ambos não se afinam, mas o Planalto não cogita substituir Moura, até para não ampliar as fissuras no bloco ligado a Rosso e ao líder do PTB, Jovair Arantes (GO), aliados de primeira hora.
Por isso, Temer pregou harmonia e distensão ontem, ao repercutir o resultado da eleição na Câmara. "Foi uma disputa competente, elevada, que teve o resultado que a Câmara desejou, com harmonia de todos", declarou. Temer ressaltou que o Executivo precisa de apoio "substancioso" do Legislativo, mas se o Legislativo faz oposição ao Executivo, fica difícil governar.
Ao reforçar o discurso da distensão, o presidente interino citou que antes do segundo turno, os dois candidatos remanescentes, Maia e Rosso, até se abraçaram, num sinal de harmonia.
Mas numa conjuntura que colocará Maia em evidência até outubro, a derrota do Centrão - bloco criado por Eduardo Cunha de apoio ao governo - e o racha na bancada do PMDB, por causa da candidatura de Marcelo Castro (PI), obrigarão Temer a se desdobrar em afagos para consolar os derrotados e apaziguar os rebelados.
Cabo eleitoral de Marcelo Castro, o deputado José Priante (PMDB-PA) acusa o Palácio do Planalto de ter sabotado a candidatura de um correligionário de Temer para o comando da Câmara. "O Marcelo [Castro] foi cristianizado, a candidatura do PMDB era uma reação ao Centrão", afirma. Ele acusa ministros de Temer de entraram em campo para esvaziar a candidatura do pemedebista e turbinar o nome de Maia. "Houve uma vitória atrapalhada e atropelada do governo", avalia. Ele ressalta, contudo, que o PMDB tem um histórico de dissidências, e que sendo a legenda de Temer, a torcida é para que o governo dê certo.
Um auxiliar de Temer minimizou que remanesçam sequelas insuperáveis na base. "Não tem racha no Centrão, a base continua sólida", afirma.
Mas alguns movimentos do governo deixarão tramas que ecoarão por alguns dias. O Centrão acha que o PR, do candidato derrotado no primeiro turno, Fernando Giacobo, foi orientado a votar em Rodrigo Maia. O ministro dos Transportes, Maurício Quintella Lessa, telefonou para Temer e perguntou em quem a bancada deveria votar. Auxiliares do interino afirmam que a orientação foi para liberar o voto. A expectativa é que após o recesso branco, que termina em agosto, as mágoas tenham sido superadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário