Por Thiago Resende e Andrea Jubé – Valor Econômico
BRASÍLIA - O processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff entra nesta segunda-feira na fase final de tramitação no Senado. A confiança é preponderante entre os aliados do presidente interino Michel Temer, mas o Palácio do Planalto receia que o processo avance para o início de setembro. O PT, porém, se divide entre os incrédulos sobre o possível retorno de Dilma e aqueles que tentam uma reviravolta do quadro, negociando com senadores que se declaram indecisos.
A comissão especial que analisa o caso retomará os trabalhos nesta semana. Depois, o relatório do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) seguirá para o plenário. Inicialmente, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sinalizou que pretendia começar o julgamento final de Dilma a partir do dia 25 de agosto. No entanto, a data ainda não foi marcada. Auxiliares de Temer foram informados de que o julgamento pode adentrar a primeira semana de setembro. Temer queria ir, no dia 3 de setembro, para a cúpula de líderes do G-20 na China já com um resultado.
No Planalto, as previsões apontam para um placar de 60 votos a favor da destituição da petista - seis a mais do que o necessário. Em maio, quando foi aprovada a abertura do processo e o consequente afastamento da presidente, o pemedebista obteve 55 votos.
Aliados garantem que ampliaram a margem. Ausente na votação inicial, Pedro Chaves (PSC-MS), que assumiu após a cassação do mandato de Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), entrou na planilha de votos pró-impeachment de um dos principais articuladores de Temer. Oficialmente, ele ainda não informa sua posição.
Na lista de indecisos figuram, principalmente, Roberto Rocha (PSB-MA), Romário (PSB-RJ), Eduardo Lopes (PRB-RJ), Cristovam Buarque (PPS-DF), Acir Gurgacz (PDT-RO) e Wellington Fagundes (PR-MT). Todos votaram pela abertura do processo, em maio, com exceção de Lopes, que assumiu por ser suplente de Marcelo Crivella (PRB-RJ) - a favor do impeachment e licenciado para disputar a eleição da Prefeitura do Rio. Pelas contas do Planalto, eles continuarão contra Dilma.
Uma ala do PT está abatida, especialmente depois que João Santana, ex-marqueteiro do partido, e a mulher dele, Mônica Moura, admitiram caixa dois em campanha presidencial petista. Mas aliados de Dilma continuam em negociações com senadores que ainda não declararam voto e, assim, acreditam numa possível mudança do cenário. Auxiliares de Dilma contam a possível abstenção de Renan, o que valeria como voto contra o impeachment.
Fagundes, que foi escolhido relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) após o afastamento de Dilma, é integrante da comissão especial do impeachment. Recentemente, em conversa com um ex-ministro de Dilma, o senador sinalizou que poderia votar pelo retorno da presidente se "outros [indecisos] fossem juntos". Mas advertiu que se percebesse que ficaria isolado, votaria com Temer. Fagundes tem convite para assumir o Ministério da Agricultura, no lugar de seu adversário político, Blairo Maggi (PP-MT), caso Dilma seja reconduzida ao cargo.
Cristovam e Acir, por exemplo, insistem na tese de antecipar eleição presidencial para o fim do ano e preferem não falar sobre o assunto. Além disso, Lopes deve seguir o PRB e manter a posição de Crivella, a favor da destituição de Dilma.
Do PSB, Rocha e Romário não mudarão os votos, asseguram integrantes da sigla e seu presidente, Carlos Siqueira. Mas Rocha foi o convidado especial de um jantar que o senador Roberto Requião (PMDB-PR) ofereceu para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há um mês em Brasília. Lula tentou convencer Rocha a votar contra o impeachment.
Eduardo Braga (PMDB-AM), ex-ministro de Dilma, é sondado pelos dois lados. Ele faltou à votação de maio e é, assim, voto importante. Braga ganhou a relatoria do Orçamento de 2017 na gestão Temer, mas mantém conversas com petistas.
São mínimas as dúvidas sobre os 22 senadores que votaram a favor de Dilma em maio. Elmano Férrer (PTB-PI) mantém em sigilo a posição, mas tende a apoiar a volta da petista. Assim como Roberto Muniz (PP-BA). Ele assumiu o cargo depois que Walter Pinheiro (ex-PT-BA) se licenciou para ocupar uma secretaria estadual. Segundo fontes, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), assegurou o voto pelo retorno de Dilma.
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