- Folha de S, Paulo
A aproximação da provável confirmação pelo Senado do impeachment de Dilma Rousseff excitou a comichão eleitoreira no governo Michel Temer. Até certo ponto, era bola cantada.
Político é um ser autoindulgente ao avaliar suas possibilidades de carreira. Do jovem candidato a vereador ao incumbente do Planalto, todos se julgam capazes de arrebatar a Presidência no próximo pleito caso consigam boa condição de disputa.
A insinuação neste momento da ambição eleitoral de Temer, porém, diminui a probabilidade de sucesso do seu governo.
A coalizão que viabilizou seja o impeachment, seja a estabilização de maioria governista no Congresso, foi soldada pela recusa explícita do vice a candidatar-se em 2018. A mera suspeita de quebra do compromisso vai prejudicar o trâmite dos interesses do Planalto no Legislativo.
Por que desgastar-se agora com a restrição dos gastos da União e dos Estados, com o endurecimento das regras de aposentadoria ou com uma alta de impostos para entregar o bônus futuro a Temer? O PSDB, que almeja ter candidato em 2018, deve estar se fazendo essa pergunta.
Veem-se também várias concessões na agenda fiscal do governo à predação corporativista. Henrique Meirelles, outro que parece encantado por fantasias eleitorais, não se comporta na Fazenda como o falcão austero da autopropaganda.
As roldanas do ceticismo voltam discretamente a girar. Distanciou-se no horizonte a queda dos juros. À ligeira retomada da atividade em 2017 poderá facilmente suceder-se um longo período de estagnação caso a derrocada nas finanças públicas não seja enfrentada pela política.
Temer candidato não teria força legislativa nem interesse próprio para tocar reformas impopulares. Correria o risco de ser neutralizado como ator político nos próximos dois anos e de legar ao sucessor a bomba-relógio da explosão inflacionária.
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