João Pedro Pitombo, Felipe Bächtold – Folha de S. Paulo
SALVADOR, SÃO PAULO - O PT deve disputar sua primeira eleição pós-impeachment em um acentuado isolamento nas capitais.
A pressão da militância partidária, o rompimento com partidos que compunham a antiga base da presidente afastada Dilma Rousseff e até mesmo a rejeição de antigos parceiros farão o PT ter alianças mais restritas na campanha municipal deste ano.
O partido deve lançar candidatos próprios em 20 das 26 capitais e, até agora, a tendência é de chapa pura em dez dessas cidades.
Em outros Estados, a composição deve se restringir a pequenos partidos ou aliados que se opõem ao impeachment, como o PC do B.
A exceção é Rio Branco (AC), onde o prefeito petista Marcus Alexandre tentará a reeleição aliado a 14 siglas. O prazo para registro das candidaturas vai até o próximo dia 15.
"A crise política influiu nas alianças e tomamos a decisão de priorizar partidos contrários ao golpe. Vamos para a campanha defender o nosso legado e mostrar nossa visão política humanizada", diz Florisvaldo Souza, secretário de organização do PT.
A conjuntura de isolamento deve provocar uma espécie de volta às origens petistas, com candidatos menos competitivos, campanhas menos custosas e discurso mais à esquerda.
Em Palmas (TO), por exemplo, a iniciativa do PT é de montar uma chapa com vice do PSOL, partido fundado em 2005 por dissidentes petistas e oposição nos anos Lula e Dilma. Em Manaus (AM), as conversas são até com o PCO e o PSTU.
Em Belém (PA), a ex-deputada Regina Barata (PT) vai enfrentar o favorito Edmílson Rodrigues (PSOL), deputado federal e ex-prefeito. A posição de coadjuvante dentro da própria esquerda gera antes cenários inimagináveis.
O presidente do PT em Belém, Apolônio Brasileiro, por exemplo, acusa o PSOL de pragmatismo por aliar-se ao PV. "É um partido que apoiou o golpe", reclama. Há dois anos, os petistas apoiaram uma chapa formada por PMDB e DEM no Pará.
Em cidades como Florianópolis (SC), a mobilização de partidos e movimentos de esquerda contra o impeachment, com a criação de grupos como a "Frente Povo Sem Medo", também deixou marcas na articulação eleitoral.
"Entendemos que o campo de aliança é esse, mais de esquerda, inclusive pensando para 2018. Em 2012, era outra conjuntura no país", diz Gabriel Kazapi, pré-candidato petista na capital catarinense.
Em Belo Horizonte (MG), o partido vai para eleição sem a companhia dos partidos aliados do governador Fernando Pimentel, como PMDB e PRB.
"Não estou preocupado em negociar alianças sem ideologia e fazer uma campanha artificial na televisão. Quero romper com esse modelo", diz Reginaldo Lopes, pré-candidato.
Sem PMDB
Na campanha municipal de 2012, disputada no auge da popularidade de Dilma, o PT lançou chapa pura em apenas três capitais. Aliados no plano federal na época, como PR e PSB, eram comuns nas chapas petistas pelo país.
A negociação com o PMDB, partido do hoje presidente interino Michel Temer, estabeleceu naquele ano o apoio ao peemedebista Eduardo Paes no Rio em troca da aliança com candidatos petistas em Belo Horizonte e em São Luís (MA).
Quatro anos depois, o PT não terá o apoio nem apoiará o PMDB em nenhuma das capitais. Os dois partidos estarão juntos somente em Aracaju (SE), numa aliança em torno do PC do B.
Em Goiânia (GO), a união de oito anos dos dois partidos chegou ao fim em março deste ano. O PT irá às urnas com aliados de menor expressão, como Pros e PT do B.
O partido será mais competitivo em Fortaleza (CE), Recife (PE) e Porto Alegre (RS), onde escalou como candidatos ex-prefeitos.
Na capital gaúcha, o PT tirou da aposentadoria Raul Pont, 72, conhecido por ter concorrido à presidência do PT pela tendência de esquerda Democracia Socialista no auge da crise do mensalão, em 2005.
Em Fortaleza, Luizianne Lins tenta voltar ao posto em chapa pura. No Recife, o ex-prefeito João Paulo é uma das principais apostas do partido e vai enfrentar o atual prefeito Geraldo Júlio (PSB).
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