Eulina Oliveira – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A prolongada crise econômica que o país atravessa está minando os esforços feitos pelas empresas para reduzir seu endividamento, o que tem contribuído para adiar investimentos e a recuperação da atividade econômica.
Uma análise dos balanços apresentados por 256 empresas com resultados no terceiro trimestre mostra que elas conseguiram algum alívio nos últimos meses com a valorização do real em relação ao dólar, mas continuam operando com níveis elevados de endividamento e têm dificuldades para retomar o fôlego.
De acordo com o estudo, elaborado pelo Cemec (Centro de Estudos do Instituto Ibmec), 48,7% das empresas não conseguiram gerar caixa suficiente para cobrir suas despesas financeiras no período. No trimestre anterior, 51,7% estavam nessa situação.
Em 2013, ou seja, antes do início da atual recessão econômica, 29,6% das empresas não conseguiram faturar o suficiente para pagar os bancos. No ano passado, a situação piorou com o aprofundamento da crise, a alta dos juros e a disparada do dólar.
Dados compilados pela Economática mostram que as receitas operacionais das companhias de capital aberto não registraram crescimento nos últimos dez trimestres. Assim como a análise do Cemec, o levantamento exclui empresas do setor financeiro.
"O endividamento das empresas está sendo afetado pelas variáveis macroeconômicas", diz o economista Carlos Antonio Rocca, diretor do Cemec. "A queda de vendas como reflexo da crise econômica levou as empresas a ter maior dificuldade para arcar com o custo de suas dívidas."
O número de empresas com níveis elevados de endividamento aumentou. Segundo a análise do Cemec, 42,7% das companhias abertas levariam mais de cinco anos para amortizar a dívida líquida com a geração de caixa alcançada no último trimestre.
No curto prazo, o quadro é ainda pior. De acordo com a análise, 52,2% das empresas não conseguiram nesse trimestre recursos suficientes para honrar os compromissos que venceram no período.
As obrigações de curto prazo representavam cerca de 22% da dívida das companhias abertas no terceiro trimestre, segundo o Cemec. Os dados não incluem os números da Petrobras, porque sua dívida é muito alta e poderia distorcer o resultado geral.
PIOR DA HISTÓRIA
Estatísticas divulgadas na semana passada pelo IBGE mostraram que a economia brasileira voltou a se contrair no terceiro trimestre. Se as previsões dos economistas se confirmarem e o resultado do último trimestre do ano também for negativo, a atual recessão deverá entrar para os livros de economia como a pior da história recente do país.
O processo de redução do endividamento das empresas é lento. A dívida total das companhias analisadas pelo Cemec era equivalente a 4 vezes sua geração de caixa no início do ano e representava 3,2 vezes no último trimestre.
"Está havendo um lento processo de desalavancagem, em parte por causa do câmbio", diz Rocca. "As empresas também fizeram ajustes, renegociaram dívidas, reduziram custos e venderam ativos."
Para Tereza Fernandez, da consultoria MB Associados, o endividamento das empresas continuará recuando nos próximos trimestres. "Com inflação e juros caindo, o poder de compra dos consumidores pode melhorar um pouco nos próximos meses."
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