A queda no consumo das famílias brasileiras foi tão intensa que só em 2020 esses gastos voltarão ao patamar de 2014, quando bateram o recorde de R$ 3,989 trilhões.
Impacto da recessão no consumo será mais longo
• Economia deve iniciar recuperação em 2017, mas brasileiro só recuperará padrão de compras daqui a 4 anos
Ana Paula Ribeiro - O Globo
-SÃO PAULO- Depois de dois anos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), em meio à maior recessão da história recente do país, a atividade econômica no país só deve começar a mostrar alguma recuperação a partir do ano que vem. Mas o resgate do padrão de consumo que o brasileiro tinha em 2014 será mais lento e desigual entre as diferentes categorias de bens e serviços e deve ocorrer somente a partir de 2020, de acordo com as projeções de economistas.
— É um ciclo econômico natural e um processo longo de recuperação até que se reverta em ampliação do consumo. O consumo das famílias só volta ao patamar pré-crise em 2020, mas com mais certeza em 2021 — avaliou Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria.
Carro-chefe dos últimos anos de crescimento da economia, o consumo perdeu fôlego com a maior seletividade dos bancos na concessão de crédito e com o aumento do desemprego. E o resultado mais visível dessa deterioração foi a queda nas vendas de bens e serviços. Segundo especialistas, o consumo de bens considerados prioritários, como itens de supermercado que foram colocados de lado, deve se recuperar até 2018. Já os produtos de maior valor vão demorar mais para voltar aos níveis mais elevados de demanda. Há segmentos, como o de automóveis, em que se espera que isso só ocorra em 2025, já que o consumidor precisará de crédito e da confiança de que não perderá o emprego para assumir financiamentos.
CESTA DE CONSUMO MENOR
O PIB brasileiro atingiu valor recorde em 2014, mesmo ano em que o consumo das famílias também foi histórico, totalizando R$ 3,989 trilhões. De lá para cá, corrigido pela inflação, esse número só diminuiu e regressará àquele patamar em 2020, segundo cálculos de Rodolfo Margato, economista do Banco Santander.
— O cenário ainda é desafiador para o consumo das famílias. Será uma melhora bastante gradual. Em 2017, esse componente deve apresentar, no máximo, um leve crescimento. Isso porque é um dado que depende muito do mercado de trabalho, e o que vimos nos últimos anos foi uma destruição de vagas no mercado formal. A taxa de desemprego vai subir até o segundo trimestre do ano que vem — avaliou Margato.
Sem emprego, a renda das famílias cai, o que dificulta novas aquisições. Aliado a isso, temendo o aumento da inadimplência, os bancos ficam mais restritivos em conceder empréstimos. Cenário que fez com que o consumidor fosse tirando produtos do carrinho de compras e adiasse a aquisição de bens de maior valor.
Das cestas de produtos acompanhados pela consultoria Kantar Worldpanel, o melhor ano em número de unidades consumidas foi 2014, mas declinou desde então. E os itens com maiores perdas, segundo Christine Pereira, diretora de negócios da Kantar, foram os de maior valor, como ceras para assoalho e cremes — ou seja, foram postos de lado itens não essenciais à manutenção da casa.
— Veremos alguma recuperação em 2017. E os itens básicos são os primeiros que respondem em um processo de aquecimento da economia. Mas a volta ao que foi em 2014, será possível só em 2018 — disse Christine.
E as vendas de produtos que dependem mais de crédito, como eletroeletrônicos e veículos, naturalmente levarão mais tempo para se recuperar. Não só devido ao crédito escasso, mas também porque o consumidor terá de retomar a confiança, recuperar o emprego e superar o temor do desemprego, o que está longe de acontecer. O índice de confiança do consumidor medido pela FGV está abaixo dos 80 pontos. Nos bons tempo do otimismo no Brasil, em 2012, passava dos 120 pontos.
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