Após o acordo de leniência da Odebrecht com os EUA, que resultou na divulgação de documentos do Departamento de Justiça americano, México, Colômbia, Peru, Argentina e Equador anunciaram abertura de investigações contra a empresa.
Investigações em série
• Após acordo de leniência com EUA, Odebrecht será alvo de apurações na Colômbia e no México
Mariana Timóteo da Costa e Tiago Dantas - O Globo
-SÃO PAULO- A divulgação dos documentos do Departamento de Justiça dos EUA (DoJ), após os acordos de leniência da Odebrecht e da Braskem, gerou um efeito cascata na América Latina, com países como México, Colômbia, Peru, Argentina e Equador prometendo investigar o caso. Acentuou ainda antigas disputas políticas. A Secretaria de Transparência, órgão ligado à Presidência da Colômbia, admitiu ontem conhecer o alto funcionário do governo que recebeu, sozinho, US$ 6,5 milhões (R$ 21,2 milhões) em propinas da Odebrecht, durante o governo Álvaro Uribe (2002-2010). Uribe é antigo aliado e rival do atual líder colombiano, o prêmio Nobel da Paz Juan Manuel Santos.
O Ministério Público da Colômbia fez buscas na sede da empresa Cormagdalena em Bogotá, sócia da Odebrecht em empreendimentos fluviais no país. O documento americano identificou pagamentos de US$ 11 milhões (R$ 36 milhões) pela Odebrecht na Colômbia. No total, US$ 439 milhões (R$1,4 bilhão) foram pagos pela Odebrecht a autoridades de 11 países; no Brasil foram pagos US$ 349 milhões. Segundo nota divulgada pelo governo Santos, os US$ 6,5 milhões foram pagos a “um alto funcionário do governo Uribe”. O documento não dá o nome dele, mas critica Uribe por ter divulgado um encontro entre Santos e Marcelo Odebrecht, em abril de 2015, no Panamá. A Presidência da Colômbia diz que o encontro ocorreu antes de Marcelo Odebrecht ser preso, em junho daquele ano, durante a abertura da Cúpula das Américas, “algo completamente normal.”
A nota é um claro recado a Uribe, atual senador que, logo após a divulgação dos documentos americanos, disse que era preciso investigar o caso. A Casa de Nariño (sede da Presidência da Colômbia) pediu “que a Justiça atue com a maior dureza contra qualquer servidor público que em qualquer momento tenha consentido, facilitado ou encoberto atos de corrupção”.
Também ontem, o governo do México informou que abriu uma investigação sobre os subornos da Odebrecht que, segundo o DoJ, pagou US$ 10,5 milhões (R$ 34,3 milhões) a políticos e funcionários públicos mexicanos entre 2010 e 2014 em troca de contratos. A investigação ficará a cargo do Ministério da Função Pública e da Petróleos Mexicanos (Pemex). Em nota, o governo informou que vai fazer uma “revisão de toda a informação disponível, a fim de trabalhar de maneira conjunta todos os apontamentos”. O governo afirmou, ainda, que “referenda seu compromisso com a efetiva investigação de atos contra os princípios éticos.”
O governo do Peru pediu ao DoJ mais detalhes sobre as investigações. A subsidiária da Odebrecht para as obras da empresa na América Latina tem sede em Lima e se chama Latinvest. A empresa prometeu colaborar com as investigações, que apontam pagamento de US$ 28 milhões (R$ 93 milhões) de suborno a peruanos entre 2005 e 2014, pegando três governos. O escândalo pode atingir inclusive o próprio presidente Pedro Pablo Kuczynski, ex-banqueiro que presidiu o Conselho de Ministros no governo de Alejandro Toledo (2001-2006); os dois estão sofrendo investigações por corrupção em seu país. Kuczynski negou ter recebido qualquer dinheiro da Odebrecht:
— Eu posso garantir que não recebi nada, nem sei de nada. Obviamente deve-se investigar tudo isso e sou a favor de uma profunda investigação — disse.
O procurador Carlos Stornelli, da Argentina, abriu uma investigação preliminar sobre o caso Odebrecht no país. Lá, a construtora está envolvida em uma polêmica que atinge os dois últimos presidentes. Por um lado, o pagamento de US$ 35 milhões (R$ 114 milhões) aconteceu durante o governo de Cristina Kirchner, quando a empreiteira ganhou uma série de obras públicas. Uma dos principais contratos, um sistema de gasodutos orçado em US$ 2,2 bilhões, no entando, está sendo feito em parceria com a Iecsa, empresa que pertence a um primo do atual presidente, Mauricio Macri.
Os governos de países que mais receberam propina, segundo os americanos, República Dominicana e Venezuela, não têm investigação sobre o caso.
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