sábado, 24 de dezembro de 2016

Governo precisa repactuar relação com Congresso, diz Moreira Franco

Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Um dos principais auxiliares do presidente Michel Temer, o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, afirma que o país começou a viver uma "democracia parlamentar", na qual os desejos do Executivo não terão necessariamente aval do Legislativo.

Na avaliação de Moreira, repactuar a relação com o Congresso e sinalizar melhora na economia serão os dois alicerces do governo para 2017, principalmente diante da crise agravada com a delação da Odebrecht e com a proximidade do julgamento da ação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) que pode cassar a chapa Dilma-Temer.

"O governo vai definir sua posição no projeto ou sugestão que enviar ao Congresso e ali, no Legislativo, pode mudar a posição inicial do governo, com debates e desejos da sociedade que podem demandar outras coisas", afirmou Moreira à Folha.

A análise do peemedebista vem depois de o Planalto sofrer dois abalos no fechamento do ano legislativo: na Câmara dos Deputados, aprovou-se o projeto de renegociação das dívidas dos Estados com a União sem as contrapartidas defendidas pela equipe econômica.

No Senado Federal, houve redução da margem de votos pró-governo na aprovação da emenda do teto de gastos em segundo turno.

Moreira reconhece que os resultados "desgastaram" o Planalto, mas diz que é preciso diálogo para superar "rusgas naturais" que têm gerado insatisfações na base parlamentar de Temer.

"Rusgas você tem com os filhos e netos, é natural. Nada grave que seja de uma belicosidade intransponível. Política é isso: tem muito homem e homem tem muita vaidade", disse o peemedebista.

Os aliados de Temer sabem que o governo precisa se fortalecer para atravessar a tormenta provocada por delações premiadas de ex-executivos da Odebrecht.

Os delatores da empreiteira –são 77 no total– já citaram o próprio presidente, além de Moreira e do ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) em depoimentos que detalham supostas práticas ilegais. Os três negam ter cometido ilegalidades.

O principal temor do Planalto é que o conteúdo da delação da empreiteira seja incorporado à ação no TSE que julga possível abuso de poder político e econômico da coligação Dilma-Temer em 2014 e dê forças ao argumento para a cassação da chapa.

Moreira reconhece que as delações e especulações sobre o resultado do TSE "criam uma instabilidade no país, mas não é isso que vai tirar o governo do rumo".

ARTICULAÇÃO
Na tentativa de garantir o apoio de sua base no Congresso, o Planalto tem atuado nos bastidores para garantir a reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara e de Eunicio Oliveira (PMDB-CE) para o comando do Senado a partir de fevereiro do ano que vem.

Temer sabe que ter aliados fiéis à frente das Casas será fundamental para aprovar projetos impopulares, como as reformas trabalhista e da Previdência.

A melhora do ambiente econômico também é considerada vital para fortalecer Temer. Moreira diz que os resultados na economia "são demorados", mas que o governo "precisa se acostumar".

"É mais rápido vencer a inflação –e isso nós estamos fazendo– do que criar um ambiente de estabilidade econômica. Isso leva mais tempo", disse o peemedebista.

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