sábado, 24 de dezembro de 2016

Base aliada teme futuro do governo

Aliados do presidente Michel Temer no Congresso estão preocupados com o futuro, mas veem as medidas econômicas como saída para superar as denúncias que tiraram o ânimo inicial da base.

Inquietos, aliados apostam na economia

• Base aliada passou da euforia com novo governo à preocupação com o futuro da gestão peemedebista

Leticia Fernandes e Simone Iglesias O Globo

-BRASÍLIA- A base aliada do presidente Michel Temer no Congresso vive um dilema e vê com inquietude o futuro da administração peemedebista, apesar de enxergar no lançamento de medidas de estímulo econômico dos últimos dias uma saída para a série de denúncias que já derrubou seis ministros até agora.

Os aliados estavam entusiasmados pela formação de uma gestão sob novas bases após o impeachment da expresidente Dilma Rousseff, mas agora fazem reclamações públicas e privadas de Temer e do governo. Alguns já traçam até planos para abandonar a base aliada pensando na disputa presidencial de 2018.

Além do desconforto em três dos principais partidos que sustentam Temer no Congresso — PSDB, PSB e DEM —, o PR, um dos aliados do centrão, engrossou o coro daqueles que cogitam um desembarque.

A legenda vem costurando a filiação do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e admite deixar a base de do governo quando isso acontecer. Bolsonaro é pré-candidato à presidência em 2018, o que, segundo interlocutores da cúpula do partido, faria o PR sair da base imediatamente.

— Se tivermos um candidato a presidente da República, como vamos ser base do governo? Se a gente traz o Bolsonaro muda tudo — disse um dirigente do partido.

PR TEME FUTURO
Sobre o futuro do governo, o presidente nacional do PR, Antônio Carlos Rodrigues, disse que vê um “futuro temeroso" pela frente, diante da lenta recuperação da economia:

— Acho muito complicada toda a situação financeira. Em 2015 o Brasil produziu 40 mil caminhões, em 2016 foram 15 mil. Esse é só um exemplo, posso te dar 20. É temeroso o futuro — afirmou Rodrigues.

No PSDB, as críticas atingiram o ápice quando o presidente nacional do partido, senador Aécio Neves (MG), propôs uma participação maior dos tucanos na formulação de políticas econômicas. A relação de permanente desconfiança alertou setores do governo e da base aliada, que viram no movimento uma tentativa de o PSDB se apropriar do coração do governo peemedebista. A partir daí tucanos passaram a falar em união com Temer para “fazer a travessia até 2018”.

Apesar disso, o sentimento do partido é de que mais do que fiador, virou refém do governo Temer.

Um tucano da cúpula partidária explicitou que o governo vem cometendo muitos erros, mas que é “conveniente” para o PSDB deixar para Temer reformas complexas e impopulares como a da Previdência.

Por isso, afirmou, será mantida a aliança, mesmo que haja resistência a esta decisão. A recondução do senador Aécio Neves (MG) para o comando do partido até maio de 2018 garante a manutenção do apoio ao PMDB. Essa sinalização irritou o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que busca se distanciar de Temer para não ser contaminado caso ele seja candidato do partido em 2018.

No PSB, a crítica pública é por causa da forma “açodada” com que o Palácio do Planalto envia projetos para o Congresso, sem prévia discussão e possíveis sugestões dos aliados. Crítica que era recorrente entre os aliados na gestão Dilma. Outra reclamação recorrente é quanto ao estilo fisiológico do líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE).

— Há uma insatisfação muito grande, André Moura trata os aliados como fisiológicos. Isso pode dar certo para alguns partidos, mas o PSB nunca teve esse tipo de comportamento — reclamou um socialista, cujo partido comanda o Ministério de Minas e Energia, um dos mais importantes da Esplanada.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que, apesar dos esforços de Temer, as ações tomadas ainda são "tímidas":

— Acho que Temer está sendo pressionado pelas circunstâncias a fazer alguns gestos em direção à população, mas ainda são ações tímidas. Vamos continuar tensionando para que sejam menos ortodoxos — disse ao GLOBO.

Temer tem dito que essas críticas públicas são naturais e não se incomoda. Ontem, em café da manhã com os jornalistas, ele voltou a dizer que “uma palavra aqui, outra palavra acolá” são episódicas.

Um dos líderes do centrão, bloco que dá sustentação ao governo mas também coleciona embates com o presidente, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) elogiou as medidas econômicas anunciadas pelo presidente e reiterou que dará apoio ao governo.

— O presidente tem tomado medidas importantes para o país, mas vejo que temos que viver com as dificuldades, que não foram criadas por ele, mas terão que ser debeladas por ele — disse.

— A ‘pinguela’ é uma visão do Fernando Henrique, não vejo que seja, ele está fazendo o possível, consertando o avião em voo. Ele pegou o avião caindo aos pedaços.

No PMDB, o senador Eunício Oliveira (CE), líder do partido no Senado, afirmou que as medidas propostas por Temer são impopulares, mas que ficou "surpreso" com a tranquilidade do presidente, em conversa anteontem.

Ele diz que a falta de popularidade e o fato de, segundo ele, Temer não estar pensando em se reeleger é ruim para o PMDB, mas bom para o país.

— Ele não está preocupado com reeleição. Isso é bom para o PMDB? Acho que não, mas está correto do ponto de vista do país — elogiou.

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