- O Estado de S. Paulo
• As marcas de 2016 são crises, frustrações e incertezas, só se salva a Lava Jato
Este 2016 que acaba amanhã só não vai tarde, sem choro nem vela, porque deixa registrado para a história um avanço firme e sem retorno da Lava Jato, a maior operação de combate à corrupção da história do Brasil e a mais contundente em curso em todo o mundo. No mais, o impeachment de um segundo presidente em um quarto de século, um ex-presidente recordista em popularidade réu pela quinta vez, uma crise econômica renitente, um descrédito preocupante da política e... falta de ânimo e perspectivas.
Foi, sem dúvida, um ano duríssimo. Juízes, procuradores e policiais federais atuando freneticamente, magnatas das empreiteiras presos, políticos de todos os matizes e praticamente todos os partidos perdendo o sono e Brasília sem parar um minuto, num pipocar diário de crises, com o presidente da Câmara cassado e preso e o do Senado réu em um e alvo de outros onze inquéritos.
Num País presidencialista, o foco ficou boa parte do tempo no Planalto, onde Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita presidente do Brasil, esgotou todas as possibilidades de corrigir seu legado econômico e político desastroso, e Michel Temer, o seu vice, tenta aflitivamente driblar o clima de instabilidade e de frustração.
Assim como petistas e incautos sonharam que bastava nomear o ex-presidente Lula para o governo e tudo voltaria a brilhar na economia, na política e na sociedade, criou-se também a expectativa inatingível de que seria suficiente tirar Dilma e por Temer para o crescimento disparar, a confiança voltar, o investimento jorrar, os empregos se multiplicarem. Mas não há milagres; há processos.
Em crises tão profundas, esses processos são longos e angustiantes.
Lula nem sequer conseguiu assumir a Casa Civil para dali tomar as rédeas do governo de Dilma, já então embalado rumo ao precipício pelas pedaladas. Já Temer assumiu e investiu em votos do Congresso e num “time dos sonhos” na economia, com Henrique Meirelles e estrelas como Pedro Parente e Maria Silvia Bastos para iluminar a boa vontade dos mercados.
Segundo o Basômetro, do Estadão Dados, Temer conquistou a adesão dos deputados em 88% das votações nominais de projetos para tirar o País do buraco. Mas os resultados da economia estão lentos e a população tem pressa. Temer disse ontem que o seu “há de ser um governo reformista” e, em propaganda nos principais jornais, enumerou 40 medidas que “já se tornaram realidade” nos 120 dias da sua gestão, mas reconheceu que “a situação econômica ainda inspira muitos cuidados”.
Aí está o problema, especialmente quando 858,3 mil postos de trabalho evaporaram em 2016 e o desemprego atinge 12,1 milhões de brasileiros. Emprego (ou desemprego) é o índice mais político da economia, mas é o último a desandar nas crises (vide Dilma) e também o último a se recuperar no fim delas.
Pairando sobre os êxitos enumerados por Temer no Congresso, seu habitat natural, e sobre a ansiedade na economia, seu maior desafio, há o fator Lava Jato, afunilado para fator Odebrecht. Acossada por multas bilionárias, suspensão de contratos internacionais e uma enxurrada de revelações chocantes em variados continentes, a empresa tenta dar a volta por cima com acordos de leniência e as delações premiadas de seu presidente, Marcelo Odebrecht, e mais de 70 executivos.
O Titanic afunda, ameaçando levar junto o mundo político. A grande incógnita neste finalzinho de 2016 é quem e quantos caberão na Arca de Noé da Lava Jato e da Odebrecht, sobretudo dentro do governo – que, de quebra, enfrenta o processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE. Nada está sendo fácil e a sorte de Temer continua sendo essa: se não está nenhuma maravilha, as alternativas parecem ainda mais assustadoras.
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