A economia pode estar crescendo mais do que se previa. Não deve ser uma expansão muito expressiva, mas pode significar o começo da superação da recessão que começou no segundo semestre de 2014 e é a mais profunda vivida pelo País em muitas décadas. É o que sugere o forte e inesperado crescimento de 1,31% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro, na comparação com janeiro, cujo comportamento foi revisto, de redução de 0,26%, anunciada no boletim anterior, para alta de 0,62%. Ou seja, a expansão de fevereiro ocorre sobre um índice fortemente corrigido de janeiro.
Embora auspiciosos, esses números do IBC-Br – considerado uma antecipação dos resultados do Produto Interno Bruto (PIB) anunciados trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – requerem um exame cauteloso. O crescimento em janeiro e fevereiro, sempre na comparação com o mês imediatamente anterior, ainda é insuficiente para colocar o índice do Banco Central acima dos números aferidos um ano antes. Assim, o resultado de fevereiro deste ano é 0,73% menor do que o de fevereiro de 2016. No acumulado dos dois primeiros meses de 2017, a retração é de 0,12%, sem ajuste sazonal. No acumulado dos 12 meses encerrados em fevereiro, o recuo é de 3,56% em relação aos 12 meses anteriores.
Também recomenda cautela na análise desses números o fato de que parte do bom desempenho pode ser resultado de um fator estatístico. Trata-se da revisão metodológica, pelo IBGE, da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) e da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) – aumento na amostra de empresas participantes, alteração do ano-base das pesquisas e novas ponderações por empresas –, que alterou os resultados desses dois setores em janeiro e influiu também nos dados de fevereiro, surpreendendo economistas de instituições financeiras. Vários deles apontaram essas mudanças como importantes fatores para a inesperada alta do IBC-Br em fevereiro.
Consultados na semana passada para a sondagem feita regularmente pelo Banco Central, esses economistas reduziram discretamente sua projeção para o crescimento do PIB neste ano, de 0,41% para 0,40%. Um mês antes, a projeção era de 0,48%, o que deixa claro que as expectativas dos entrevistados pioraram no período. No mais recente Relatório Trimestral de Inflação do BC, publicado no mês passado, a previsão foi de expansão de 0,5% neste ano.
A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que decidiu a redução da taxa Selic de 12,25% para 11,25% ao ano, registrou, mais uma vez, que há indicações de “retomada gradual da atividade econômica ao longo de 2017”. Quanto ao desempenho da economia nos próximos meses, os integrantes do Copom avaliaram que, em relação à reunião anterior, houve “pequena melhora na perspectiva de retomada da economia”.
Para a inflação, as projeções dos analistas do mercado são de queda nos próximos meses. A Ata do Copom registra que “a dinâmica da inflação permanece favorável”. Para este ano, a projeção predominante é de 4,1%, abaixo da meta de 4,5%.
É um cenário, em tese, bastante favorável para a adoção de uma política monetária bem menos rigorosa. O próprio Copom reconheceu que a evolução da conjuntura justificaria “uma intensificação do ritmo de flexibilização monetária maior do que a decidida”. Ou seja, a queda da Selic poderia ter sido maior do que um ponto porcentual. E por que o Copom não aprovou um corte mais profundo, de 1,25 ou 1,5 ponto porcentual, como esperavam alguns economistas de instituições financeiras? Porque, justifica a ata, “a continuidade das incertezas e dos fatores de risco ainda pairam sobre a economia”, o que recomendou uma decisão mais prudente.
É uma forma elegante de dizer que o processo de alívio da política monetária está condicionado a fatores políticos, sobretudo o andamento “de reformas fundamentais para sustentabilidade das contas públicas, como é o caso da reforma da previdência”. Trata-se, diz a Ata do Copom, de um “processo longo e envolve incertezas”.
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