No momento em que o Tesouro transfere dinheiro para estatais que financiaram propinas, o cidadão que paga impostos é que estará arcando com a conta
Transcorria o início de 2015, quando José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras durante praticamente todo o período da farra do petrolão e seus desfalques na estatal, compareceu a mais uma CPI que tentava jogar luz no breu que envolvia a empresa, principalmente nas administrações lulopetistas.
Arrogante, fez longas e desinteressantes explanações técnicas, como em comissão de inquérito anterior, mas deixou escapar a cândida explicação de que, se havia propinas pagas por empreiteiras no âmbito da Petrobras, elas saíram do “lucro” das empresas. Acreditasse quem quisesse.
Ora, a corrupção no universo dos negócios com o poder público é financiada pelo superfaturamento dos negócios feitos com o Estado e suas empresas. Ou seja, o Tesouro, em última instância, o principal acionista das companhias públicas federais, é que paga as propinas. E acionistas privados, se houver, como na Petrobras. Ao primeiro aumento de capital da companhia, o Tesouro, com dinheiro do contribuinte, fará o chamado aporte de capital, que também servirá para tapar rombos abertos pela corrupção, e aí se consumará o roubo de quem paga impostos.
Apesar da dissimulada explicação de Gabrielle, no balanço de 2014, divulgado em abril de 2015, um mês após aquele comparecimento do ex-presidente da Petrobras à CPI, ficaram registradas perdas de R$ 6,2 bilhões devido à corrupção. Sabe-se que é muito mais.
Nunca esteve em questão a qualidade do corpo técnico da empresa. Só mesmo um forte poder político para permitir tantos desvios para cima das estimativas de investimentos. Hoje, diante do conjunto da obra do petrolão, sendo desvendado pela Lava-Jato, consegue-se entender o que significou o aparelhamento lulopetista da empresa.
A videoteca da Odebrecht registra conversas sobre pedidos de dinheiro do PT, PMDB e PSDB que, na verdade, são a origem do superfaturamento. É muito grande o desvio em projetos da estatal para ser explicado por falhas de planejamento. A Sete Brasil, por exemplo. Idealizada para montar sondas e alugá-las à Petrobras, um negócio de US$ 27 bilhões de investimento, terminou em recuperação judicial, flutuando numa dívida de R$ 19,3 bilhões.
O economista Claudio Frischtak, da consultoria Inter.B, cita estudo do TCU segundo o qual o sobrepreço médio em obras de infraestrutura no país é de 17%. Como em 2015 foram investidos R$ 134 bilhões no setor, teriam sido desperdiçados pelo governo — tudo indica, para financiar a corrupção — R$ 22,7 bilhões. Parte dessa conta, transferida ao contribuinte em aumentos de capital de estatais.
Na ponta do lápis, diante das cifras bilionárias que surgem nas delações da Odebrecht — e virão mais de outras empreiteiras — não é arriscado afirmar que o déficit público brasileiro seria mais baixo, se houvesse lisura na política.
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