No Planalto, há leitura de quem acredita que gravação não 'compromete' governo e outro que vê 'erro grave' de reunião de presidente com empresário investigado
Tânia Monteiro | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - O presidente Michel Temer se reuniu nesta quinta-feira, 18, com pelo menos 14 dos seus 28 ministros e inúmeros parlamentares, além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em diferentes audiências, ao longo de todo o dia, no Palácio do Planalto. A Presidência tenta vender a tese de que a gravação divulgada da conversa de Temer com o empresário da JBS, Joesley Batista, "não compromete" o presidente e não apresentou "nenhuma conduta inadequada" dele e que "a montanha pariu um rato".
Depois do pronunciamento, em que avisou que não irá renunciar, Temer ouviu opiniões e tentou reverter a sangria de seu governo em relação à base aliada. Conseguiu segurar o ministro Bruno Araújo, das Cidades, que é do PSDB, mas seus esforços não foram suficientes para segurar Roberto Freire, do PPS.
A partir de agora, de acordo com um dos interlocutores, será preciso acalmar os mercados, reagrupar a base aliada que, em parte, reconhece ter sido esfacelada, e torcer para que o Supremo Tribunal Federal arquive o seu processo, "o mais rápido possível".
Temer e seus auxiliares tentaram minimizar até mesmo o trecho divulgado da conversa de Joesley, no qual o empresário diz que comprou juízes e procuradores. Entre os interlocutores do presidente há quem acredite que esse ponto é "muito delicado" e poderá ser avaliado com "prevaricação", crime que poderia endossar seu afastamento do cargo.
Os maiores defensores do presidente insistem que essa divulgação "colocou o País em uma crise sem fim que nunca existiu". Para os auxiliares do presidente, "o STF tem de esclarecer todos estes pontos, o mais rápido possível e arquivar este processo".
O presidente reiterou a todos com os quais falava que "não existe essa coisa de comprar silêncio" (do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha), como foi divulgado inicialmente. No Planalto, agora, a avaliação é de que a hora é de aguardar a repercussão efetiva no Congresso, assim como as manifestações das ruas.
Mas o Planalto já exibia as cartas de apoio de partidos da base aliada como o PR e o PP. A avaliação é de que, até agora, o PSDB permanece com o governo, assim como o PMDB, embora o PSB esteja fora da base aliada. O PPS afirma estar em posição de "independência", mesmo perdendo ministros, como foi o caso de Roberto Freire.
Pelo menos dois ministros que estiveram com o presidente Temer reconheceram que a conversa com Joesley "não foi boa", mas dizem que "também não tem crime". Ministros reconhecem, no entanto, o fato de Temer ter recebido Joesley, um já empresário comprometido e sob investigação, no Palácio do Jaburu, sua residência oficial, "não é nada bom".
Por isso, auxiliares do presidente e o governo, como um todo, aguardam o que virá pela frente. As manifestações que têm ocorrido no País, embora não sejam desprezíveis, são consideradas menores do que se esperava. So que não há uma previsão sobre o que poderá acontecer daqui para a frente.
Nesse quadro total de incertezas, em que o presidente sabe que poderá ser afastado do cargo, embora avise que não vá renunciar, Temer conta com o apoio do seu aliado, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Este é o responsável pela autorização ou não da abertura de impeachment do presidente da República. Mas, ao mesmo tempo, poderá ser o seu sucessor, em caso de saída de Temer do governo. Maia esteve com Temer pelo menos duas vezes.
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