- O Estado de S.Paulo
Toda incerteza na política e na economia cobra um preço da sociedade. E ele será tanto mais alto quanto maior a incerteza.
Alguns desses preços começaram a ser cobrados tão logo ficou sabido que o presidente Michel Temer foi gravado ao autorizar um cala-boca em delação premiada do ex-deputado Eduardo Cunha.
Enquanto não se souber qual será a solução política a ser dada para a crise, também não se saberá quem conduzirá a política econômica e com que mudanças. As grandes questões ficam paralisadas, sabe-se lá até quando. Sobram dúvidas sobre o encaminhamento a ser dado às reformas e sobre o ritmo em que serão tocados os projetos de concessão de serviços públicos.
Nesse clima de insegurança, nenhum empresário se lançará a investimentos, porque não sabe que riscos encontrará à frente. A mesma atitude tende a acontecer nas famílias. Compras mais importantes e iniciativas que normalmente seriam tomadas em ambiente de mais confiança também devem ser adiadas. Desse ponto de vista, fica mais provável uma quebra na recuperação da atividade econômica que parecia em andamento. Se essa consequência se confirmar, a saída da recessão pode ser interrompida.
Mas há outros impactos a levar em conta no varejo da economia. As cotações da moeda estrangeira, por exemplo, saltaram 8,07% para R$ 3,38 por dólar e agora ficou mais difícil avaliar a trajetória futura. O valor de mercado das empresas brasileiras despencou, como se viu nas bolsas de valores. O índice de risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap, avançava 28,7%, para 269 pontos, às 16h desta quinta-feira.
Não são abstrações numéricas. Implicam aumentos de custos que, por sua vez, terão desdobramentos que ainda não podem ser medidos. A alta do dólar encarecerá em alguma proporção os preços dos importados. Pela mesma razão, mercadorias e serviços cujos preços são medidos em dólares ainda que produzidos no Brasil, também deverão ser reajustados para cima. Nessa lista estão combustíveis, alimentos e todas as commodities.
Isso conduz à retomada da inflação, justamente no momento em que os ventos sopravam a favor da continuação da baixa, processo que vem vindo desde fevereiro de 2016.
O provável revigoramento da inflação, por sua vez, deve mudar o jogo da política monetária conduzida pelo Banco Central. Até quinta-feira, aumentavam as apostas de que viria aí corte dos juros básicos (Selic) de 1,25 ponto porcentual ao ano. Agora, não se sabe nem se haverá corte. A decisão do Copom está agendada para o dia 31.
Assim, as cartas estão sendo embaralhadas. Durante um bom tempo, as projeções sobre o comportamento da economia estarão sujeitas a enormes dispersões. Como ninguém está em condições de saber qual será o encaminhamento a ser dado à crise, os prognósticos ficaram mais difíceis, a começar pela avaliação dos estragos.
Sobram dois fatos positivos. O primeiro deles é o de que o Brasil sempre superou suas crises e não será desta vez que será diferente. O segundo, o de que as instituições estão firmes e é no âmbito delas que começa a ser combatida a corrupção. Mas, outra vez, tudo isso tem um preço.
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