Jungman, da Defesa, fica no governo por ‘relevância de sua área’
Catarina Alencastro, Júnia Gama e Cristiane Jungblut | O Globo
-BRASÍLIA- A delação que atingiu em cheio o presidente Michel Temer levou partidos de sua base aliada a anunciarem o rompimento com seu governo e à entrega do cargo de ministro da Cultura por Roberto Freire, do PPS. Os partidos aliados amanheceram o dia em reuniões para decidir o que fazer. O primeiro a anunciar que vai desembarcar do governo foi o PSB, que já ensaiava esse passo desde quando optou por se rebelar às reformas trabalhista e da Previdência. Em seguida, foi a vez do PPS, cuja bancada na Câmara não só defendeu o rompimento, como pediu a renúncia do presidente Temer.
Com dois titulares na Esplanada, o PPS manteve, no entanto, Raul Jungmann no Ministério da Defesa. Em nota, o partido explicou que “tendo em vista a gravidade da denúncia” estava deixando o governo e que a manutenção de Jungmann se deveu, segundo à legenda, “à relevância de sua área de atuação de segurança do Estado”.
— Não é possível admitir um presidente participando de qualquer tipo de conluio para proteger um réu da Lava-Jato. Isso é incompatível com a Presidência da República. No nosso entendimento, o presidente Temer poderia, num gesto de grandeza, também preocupado com a recuperação da economia, renunciar — discursou o deputado Arnaldo Jordy, líder do PPS.
Mais tarde, a bancada do PSDB na Câmara também anunciou que esperava a divulgação dos áudios para determinar a saída dos quatro ministros tucanos do governo. O partido encerrou o dia em compasso de espera.
Ao longo do dia, líderes dos partidos aliados cobravam uma resposta rápida. Nos bastidores, muitos aliados avaliavam que Temer perdeu as condições de permanecer no Palácio do Planalto e que o andamento das reformas estava inviabilizado. O DEM, partido que ascenderá ao Poder, na figura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, caso fique vago o gabinete hoje ocupado por Temer, assumiu uma posição dupla: enquanto o líder do partido no Senado, Ronaldo Caiado (GO), foi o primeiro a pregar a renúncia de Temer, na Câmara o tom foi mais leve.
SINAIS CONTRADITÓRIOS
A cúpula do DEM se reuniu ontem para analisar a situação do partido junto ao governo e, por enquanto, a ordem é aguardar o desenrolar dos fatos. Os parlamentares da legenda querem primeiro ter acesso às gravações a respeito do presidente Michel Temer para, depois, tomar uma decisão oficial. Por enquanto, o ministro da Educação, Mendonça Filho, permanece no cargo. Ele esteve mais cedo com Michel Temer no Palácio do Planalto, ao lado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
O presidente nacional do DEM, senador Agripino Maia (RN), afirma que tem mantido conversas com lideranças do PSDB para que as duas legendas tomem uma decisão conjunta, que pode ser anunciada hoje.
— É preciso aguardar para ver a consistência e a veracidade dos fatos anunciados, que são muito graves. Visto isso, tem que seguir o que a Constituição disser. Se saírem vídeos e fotos irrespondíveis, o governo acabou, não há dúvida disso. Conversei com Tasso e Aloysio Nunes (ministro das Relações Exteriores) e a ideia é que tomemos uma decisão em conjunto. Não vamos cuspir no prato que comemos, mas também não vamos conviver com o errado — afirmou Agripino.
O PP também foi cauteloso, optando por aguardar os desdobramentos do caso para decidir um posicionamento. O líder do partido na Câmara, Arthur Lira (AL), lamentou os fatos e disse que ninguém sabe o que vai acontecer.
— Nós não temos informação, a não ser as conversas que foram divulgadas. Vamos ver o que aparece. Tem que ver os desdobramentos e ter muita prudencia. É uma pena, porque o clima de normalidade estava voltando. Ninguém sabe para onde vai agora — diz. (Colaborou Geralda Doca)
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