sábado, 6 de maio de 2017

Macron freia reação de Le Pen e reforça imagem de favorito em eleição francesa

Enquanto a nacionalista enfrentou a exasperação do púbico, Macron teve um dia tranquilo, concedendo uma última entrevista na noite de sexta-feira, 5.

Andrei Netto, Correspondente | O Estado de S. Paulo

PARIS - A campanha presidencial na França chegou ao fim com os dois candidatos em situações opostas. Depois de começar sob críticas o segundo turno, o centrista Emmanuel Macron reagiu e ampliou sua vantagem sobre a nacionalista Marine Le Pen, segundo duas pesquisas de opinião. Sob pressão, a candidata foi alvo de protesto em Reims e saiu pela porta dos fundos durante a visita da “Catedral dos Reis”, um símbolo da “França milenar” que pretende representar.

A visita ao templo aconteceu no fim da manhã, e de surpresa. A candidata da Frente Nacional apareceu em Reims, no norte do país, acompanhada de seu novo aliado, Nicolas Dupont-Aignan, seu primeiro-ministro em caso de vitória. Um princípio de tumulto se formou fora da catedral, quando militantes supostamente ligados aos movimentos En Marche!, de Macron, e França Insubmissa, do radical de esquerda Jean-Luc Mélenchon, começaram a gritar contra a nacionalista.

O protesto precipitou o fim da visita, e Le Pen saiu por uma porta dos fundos da catedral, sendo protegida por seguranças e assessores dos ovos jogados por alguns manifestantes – na véspera, ela também foi alvo de ovos, dos quais ela escapou nos dois episódios.

Um dos líderes do partido, Florian Philippot, mais tarde usou em redes sociais uma falsa mensagem de texto na qual um militante favorável a Macron exortaria a matar Marine Le Pen. A imagem havia sido adulterada.

Le Pen também acusou a militância de Macron pelo episódio – a maior parte seria de militantes antifascistas ligados à França Insubmissa. “Os apoiadores de Macron agem com violência em todo lugar, mesmo na catedral de Reims, lugar simbólico e sagrado. Nenhuma dignidade”, afirmou via Twitter.

Enquanto a nacionalista enfrentou a exasperação do púbico, Macron teve um dia tranquilo, concedendo uma última entrevista na noite de sexta-feira, 5. O candidato informou já ter decidido o nome de seu eventual primeiro-ministro em caso de vitória. “Ele ou ela terá uma experiência no campo político e competências para dirigir uma maioria parlamentar”, afirmou.

O clima oposto dos dois candidatos refletiu a situação nas pesquisas de opinião. Desde o debate da noite de quarta-feira, quando teve uma performance muito criticada, Le Pen sofreu queda nas pesquisas, que no primeiro turno foram precisas. Segundo o instituto Elabe, Macron vencerá por 62% a 38%, enquanto o Ifop aponta 63% contra 37%. No início da semana, o segundo instituto apontava 59% contra 41%.

Estratégia. Há 13 meses, o ex-militante socialista Macron não tinha nem partido. O elemento central de sua ascensão foi a estruturação de uma nova legenda independente, En Marche!, e a criação de um método de fazer campanha inovador na política francesa.

Graças ao alto engajamento dos militantes, uma organização participativa, uma estratégia de porta em porta com base em dados demográficos e uma comunicação eficiente, o ex-ministro da Economia está a um passo do Palácio do Eliseu.

Macron é um personagem novo na vida política da França. Há três anos, seu papel era de bastidores, como conselheiro político do atual presidente, o socialista François Hollande. O jovem administrador de 39 anos tornou-se conhecido ao ser nomeado ministro da Economia e empreender uma primeira reforma trabalhista, batendo de frente com os sindicatos. Insatisfeito com a baixa capacidade do governo de realizar reformas, Macron decidiu criar outro partido. Assim nasceu, em abril do ano passado, o En Marche! (Em Movimento!).

Entre abril e agosto, quando se demitiu do governo e anunciou a intenção de se candidatar, Macron se dividiu entre os papéis de ministro e de fundador do partido. Nesse momento, o En Marche! abriu um processo de adesão de militantes. Hoje, os mais de 240 mil inscritos podem participar de fóruns e comitês para discutir os programas de governo. Os militantes, que não se distinguem pela ideologia, mas pela recusa de ideologias de direita e de esquerda, são os mesmos que realizam panfletagem nas ruas, visitam casas e enchem ginásios em comícios.

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