Por Camilla Veras Mota e Cristiane Bonfanti | Valor Econômico
SÃO PAULO E BRASÍLIA - A sazonalidade positiva da agropecuária em maio garantiu o segundo mês consecutivo de contratações líquidas com carteira assinada no país. No total, foram 34,3 mil novos postos, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 46 mil no setor. Mesmo com a ajuda, os números do registro continuam mostrando que o mercado formal reage à crise. Os principais setores acompanhados, apontam economistas, tiveram desempenho significativamente melhor do que em maio do ano passado. O volume de novos contratados, por sua vez, após 28 meses quase ininterruptos de queda, voltou a crescer na comparação com igual período do ano anterior.
Os serviços criaram 1,9 mil novas vagas, depois de fecharem 36,9 mil no mesmo mês do ano passado; a indústria de transformação gerou 1,4 mil, após 21,2 mil demissões líquidas em maio do 2016. A construção civil e o comércio cortaram 4 mil e 11,3 mil empregos formais, nessa ordem, menos do que os 28,7 mil e 28,8 mil do mesmo intervalo de 2016.
O setor agropecuário contratou 46 mil novos trabalhadores, número também superior ao de maio de 2016, 43,1 mil. O cultivo de café, concentrado em Minas Gerais, contribuiu com a geração de 25,2 mil postos formais. As plantações de laranja, sobretudo em São Paulo, e de cana-de-açúcar, concentrada São Paulo e no Rio de Janeiro, criaram, respectivamente, 11,5 mil e 5,6 mil vagas.
Apesar do resultado fraco da indústria e dos serviços, quando se compara aos meses de maio anteriores à recessão, esses dois setores vêm protagonizando uma reação importante, diz Thiago Xavier, da Tendências Consultoria. "Na margem [no curto prazo], a volatilidade dificulta essa avaliação, mas no acumulado do ano esses foram os setores que mais se distanciaram do saldo de 2016."
Entre janeiro e maio, a indústria de transformação abriu quase 35 mil postos de trabalho, depois de cortar 104 mil nos cinco primeiros meses de 2016. Nos serviços, o acumulado é de mais de 50 mil, contra saldo negativo de 90 mil vagas entre janeiro e maio do ano passado.
"É uma boa diferença", diz Fabio Romão, da LCA Consultores, referindo-se ao resultado acumulado dos serviços, o qual também destaca. Quando se olha para o setor formal como um todo, o saldo positivo é de pouco mais de 25 mil, tomando-se a série sem ajuste, usada pelo economista, que contabiliza apenas as informações enviadas pelas empresas dentro do prazo. Com ajuste, o acumulado é de 48,5 mil. Entre janeiro e maio do ano passado, o Caged registrava perda de 458,5 mil vagas. "Parece um resultado modesto, mas sinaliza que você estancou aquele processo."
Outro sinal positivo vem da dinâmica de contratações. Em maio, as admissões cresceram 2,7% sobre o mesmo mês de 2016, para 1,24 milhão. Excetuando-se o avanço de 1,7% observado em janeiro, desde dezembro de 2014 não se registrava aumento. "Como o mercado ficou mais formal nos últimos anos, o emprego acabou sendo ajustado mais pelas admissões", pondera Romão. A retração no nível de emprego no país nos últimos dois anos foi caracterizada por uma queda expressiva no volume de contratações - as empresas aproveitavam a rotatividade natural do mercado de trabalho para reduzir os quadros de funcionários.
O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, comemorou os números do Caged e afirmou que o resultado é sinal de retomada da economia brasileira. Ele destacou que esse foi o segundo mês seguido de saldo positivo no emprego e o terceiro do ano. "Podemos constatar que a economia volta a dar sinais de recuperação", disse Nogueira, que admitiu não poder garantir que todos os meses sejam positivos a partir de agora.
"Se, de cinco meses, três foram positivos, você faz uma tendência de que os números sejam positivos. Gostaria de garantir [que fosse positivo], mas não posso garantir", afirmou o ministro.
Além de Nogueira, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, decidiu capitalizar o desempenho do emprego. A divulgação ocorreu no mesmo dia em que o governo Michel Temer sofreu um revés na tramitação da proposta de reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado.
Em seu perfil no Twitter, Meirelles afirmou que o resultado do mercado de trabalho em maio confirmou as previsões do governo de uma "recuperação gradual do emprego". "Na retomada do crescimento, a economia demanda algum tempo para atingir o nível de emprego que desejamos", escreveu Meirelles. "O importante é que o rumo está certo."
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