A produção industrial brasileira surpreendeu positivamente ao fechar junho estável em relação a maio, reagindo com relativa tranquilidade à turbulência política desencadeada pela delação da JBS que implicou o presidente Michel Temer. Em vez do temido piso no freio nas fábricas, predominou a atitude de manter o ritmo das máquinas, enquanto se esperava o horizonte clarear. A opção contribuiu para que a indústria fechasse o semestre com aumento de 0,5% sobre a produção dos seis primeiros meses de 2016.
O avanço foi pequeno, é verdade, mas foi o melhor semestre após seis de quedas consecutivas, e alimentou previsões otimistas para o ano. Segundo levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), a indústria brasileira saiu da lanterna em um grupo de 48 países, mas ainda ocupa a 37ª posição.
O resultado positivo no semestre foi garantido sobretudo pela expansão da produção de veículos automotores, reboques e carrocerias, que saltou 11,7% e teve influência determinante no aumento de 10% dos bens duráveis no semestre. Também reagiram o segmento de bens de capital, com expansão de 2,9% e o de bens de consumo, com 0,9%, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que salientou ainda o avanço de 6% da indústria extrativa. Já o de bens duráveis e semi-duráveis registrou queda na produção de 1,2%; e o de bens intermediários, de 0,1%.
O comportamento da indústria no primeiro semestre abriu espaço para previsões otimistas para o restante do ano. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) calcula que o resultado de junho deixa um carregamento estatístico positivo de 0,4% para o terceiro trimestre. Ou seja, o resultado do terceiro trimestre será positivo mesmo que a produção fique estagnada nesse período. Apesar de a variação acumulada nos 12 meses terminados em junho apresentar queda de 1,9%, já se espera que a produção industrial feche 2017 em alta, após três anos consecutivos de retração. Há no mercado financeiro projeções de que a indústria pode crescer até 2% neste ano.
O otimismo não é, porém, generalizado, e há quem prefira contar com uma estabilidade e não com uma retomada. O desempenho deste início de ano está assentado principalmente na demanda externa, em especial em fatores internos específicos. Um deles é a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS, com um total de R$ 44 bilhões sacados; mas já passou, ou seja, teve impacto uma só vez. Outro é a safra agrícola recorde que impulsionou a demanda de bens de consumo, máquinas, equipamentos e, ainda, de veículos, para escoar a produção.
De todos os fatores que estão impulsionando a indústria, o mais consistente parece ser a exportação. No primeiro semestre do ano, o déficit comercial do setor industrial foi o menor desde 2008, de US$ 1,249 bilhão, segundo o Iedi. Mas as compras de máquinas e equipamentos ainda encolhem, sinalizando a cautela do empresário em investir. O alto índice de ociosidade industrial, perto de 25% segundo os indicadores da FGV e um pouco menos, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), não incentiva os investimentos.
A importância do mercado externo para a expansão da indústria também fica evidente no Indicador de Consumo Aparente da Indústria, divulgado ontem pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). Definido como produção industrial doméstica, acrescida das importações e diminuída das exportações, o indicador registrou recuo de 3,1% nos 12 meses terminados em junho, como resultado da diminuição de 1,9% da produção industrial no período, aumento de 2,1% das exportações e de 0,9% das importações.
Assim, a manutenção do bom desempenho da indústria vai depender principalmente da demanda externa. Mas o cenário interno deve certamente influir. A redução da inflação e da taxa de juros deve ajudar na retomada do consumo das famílias e baratear o crédito, engrossando a demanda e reduzindo os custos de financiamento. Não se deve menosprezar também a importância de um ambiente político favorável ao andamento do ajuste fiscal. O espaço para crescer é grande. Mesmo após a ligeira recuperação, a indústria apenas voltou ao patamar de 2009, e está 18,2% abaixo do pico histórico do setor que foi em junho de 2013.
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