A controversa Assembleia Nacional Constituinte (ANC) da Venezuela, com superpoderes para reformar a Constituição e reforçar o poder de Nicolás Maduro, iniciou os trabalhos demitindo a procuradora-geral, Luisa Ortega Díaz. No poder público, uma das poucas vozes críticas das ações do presidente, desde que começaram as manifestações de rua em março, após uma tentativa do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) de caçar a autoridade da Assembleia Nacional, onde a oposição tem maioria. A demissão é mais um sinal da conversão do país numa ditadura, que sufoca a crítica e a oposição.
A população reage em várias instâncias. No domingo, um grupo de militares atacou uma base de blindados, a segunda maior do país, na cidade de Valência, a 160 quilômetros de Caracas. O ataque foi comandado pelo ex-capitão da Guarda Nacional Juan Caguaripano, que apareceu num vídeo, exigindo a formação de um governo de transição. Segundo relatos oficiais, dois rebeldes foram mortos e oito detidos. A ação em Valência é o primeiro sinal de que o presidente venezuelano não conta com o apoio total das Forças Armadas.
Maduro disse que o ataque foi feito por um grupo de “mercenários” financiados por forças estrangeiras e a oposição. Tal acusação faz parte da cartilha de inspiração cubana que Maduro segue à risca. Assim como pequenos gestos de suposta “abertura”, como a transferência, pela segunda vez, dos líderes oposicionistas Leopoldo López e Antonio Ledezma para prisão domiciliar, uma tentativa de confundir os críticos do regime.
A estratégia, porém, não resiste à realidade. E as evidências de repressão, intransigência e autoritarismo aparecem em todos os aspectos da vida civil dos venezuelanos, como o aparelhamento das instituições republicanas; a reforma da Constituição para reforçar os poderes de Maduro; a repressão contra manifestantes, que já custou mais de 100 mortes nos protestos legítimos etc.
Diante desse quadro, o Mercosul aprovou no fim de semana a suspensão da Venezuela do bloco por tempo indeterminado por violação da cláusula democrática, inclusive com o voto do Uruguai, que vinha resistindo a medidas mais duras contra Caracas. Segundo o chanceler uruguaio, Rodolfo Nin Novoa, a medida se deveu à resistência do governo de Maduro em ouvir o apelo do bloco para abrir uma via de diálogo com a oposição. Ele acrescentou que o Uruguai poderia ter optado por se abster, mas, diante da intransigência de Caracas, acompanhou os demais países do bloco.
A Venezuela fica, assim, cada vez mais isolada, em meio a uma grave crise econômica e social, fatores que pavimentam um perigoso caminho para uma guerra civil e uma crise humanitária, que já provoca o êxodo de venezuelanos para países vizinhos, como Brasil e Colômbia.
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