Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O vice-governador de São Paulo, Márcio França, afirma que seu partido, o PSB, pode não apoiar Geraldo Alckmin em 2018 se o PSDB lançar candidato a governador, em vez de apoiar a sua reeleição.
França deve assumir o governo do Estado no ano que vem se Alckmin se candidatar. "O meu partido é claro que vai imaginar uma reciprocidade", disse. "Farei todo o esforço, mas cada partido tem autonomia."
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Folha - O sr. é conhecido como articulador, mas não tem visibilidade como gestor. Se assumir o governo, como mostrará que tem capacidade para administrar o Estado?
Márcio França - Fui prefeito reeleito da cidade com um dos cinco menores orçamentos per capita do país, muito pobre, São Vicente (SP). Gerenciar situações difíceis não é novidade para mim. No caso de SP, não dá para imaginar que é um governo novo. Já será um processo eleitoral, é impossível descasar as duas coisas. E Alckmin será o franco favorito.
Por quê?
Ele reúne as melhores condições. Escrevi três anos atrás que o Brasil estaria passando por uma crise de instabilidade e a população estaria à procura de algo estável, sereno. Encontraria o anestesista de Pinda, o marido apaixonado da dona Lu e o picolé de virtudes chamado Alckmin.
O Estado tem também outro nome, o de João Doria.
O Estado tem vários nomes. Mas, disponíveis, poucos. Quem espera de Doria ingratidão não vai acertar. Existem amigos que colocam panos e amigos que jogam gasolina.
Por que se joga gasolina?
Porque enfraquece Alckmin. Ele tem posição nacional privilegiada, suas posições se encaixam melhor ao centro, tem perspectiva de trazer um público que Doria não tem. No Datafolha, Ciro [Gomes (PDT)] ganha do Doria e perde para Alckmin no segundo turno [dentro da margem de erro].
Se o ex-presidente Lula (PT) for candidato, Ciro não deve ser.
Imagino que Lula não será candidato. Na eleição passada, prefeitos com chances não se lançaram porque tinham situações jurídicas tortas.
O mesmo argumento não vale para Alckmin, envolvido na Operação Lava Jato?
Não, são situações diferentes. Lula é réu e condenado. Alckmin não responde a nenhum processo.
Se Alckmin virar réu até lá, a candidatura fica inviável?
Não. Acho que estão em momentos distintos. O inquérito contra Alckmin não tem data, não foi iniciado.
O sr. tentará se reeleger?
Naturalmente, é o sonho de qualquer político. Mas é uma decisão que tem tudo a ver com a candidatura presidencial. Se não tem Alckmin, muda tudo.
Se Doria for presidenciável?
Insisto em achar que João não fará isso com o Alckmin. O movimento é mais vinculado a pessoas que querem excluir Alckmin. No fundo, não é o João, é excluir o Alckmin.
Quem quer excluir Alckmin?
Quem não gosta dele, ou prefere o que está aí. Tudo o que for muito elite não gosta do Alckmin, ele é antielite. Não frequenta esse ambiente, então é visto com desconfiança. Sua simplicidade chega a constranger. Se soubessem a vida que ele leva, seria imbatível.
O sr. entraria em disputa com um candidato do PSDB ao governo de São Paulo?
Cada partido tem sua autonomia. Vamos lutar para estarmos juntos. O próprio Alckmin falou que lançam seus candidatos e depois se juntam no segundo turno. É claro que o governo que fará a pessoa ficar popular, não o nome.
Assumir o governo vai torná-lo popular?
Acho que sim. Falei para a Folha quando Doria tinha 6% das intenções que seu patamar inicial era de 25% por conta do apoio do governo de SP.
Qual é o seu patamar inicial?
Uns 20%, 25%. Difícil um governante não ter patamar.
Se Doria for candidato a governador, o sr. continua candidato? Dizem que ele seria um nome unânime.
É impossível ter unanimidade. Nós, eu, DEM, PPS, PV, PP, dissemos ao Doria que o ajudaríamos a se eleger para ele ajudar a eleger Alckmin presidente. Então, quem especula? Vejo muita gente de vários partidos que não quer Alckmin que diz que o problema dele é o Doria. Então, não tendo o Doria, não tem problema. Coloca-se que Doria pode trair Alckmin porque vindo de um aliado machuca mais. Não creio que vá ser o Doria. Pode ter outro nome do PSDB, como José Serra.
O senhor faria palanque para Alckmin de toda forma?
Eu, sem dúvida. Agora, o meu partido, que é nacional, é claro que vai imaginar uma reciprocidade, que é a mesma coisa que o DEM reivindica. Mas tudo isso é a articulação que monta, você não conquista isso, mas conquista aquilo.
O PSB pode não ficar com Alckmin se PSDB lançar candidato?
Eu vou fazer todo esforço para o partido estar com ele.
Mas pode não acontecer?
Claro. Cada partido tem autonomia. Por exemplo, sonho de partido é ter candidato a presidente. Mas concretamente hoje não temos um nome.
Mesmo no PSB, Jonas Donizette [prefeito de Campinas] gostaria de ser candidato a vice de Doria ao governo de SP.
Se Alckmin fosse candidato a presidente do PSB, eu não teria problema em abrir mão de ser candidato, porque é meu dever ajudá-lo. Esse é um bom sinal de o que eu acho.
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