Sergio Lamucci | Valor Econômico
SÃO PAULO - O consumo das famílias vai impulsionar a economia também em 2018, tendo o investimento como coadjuvante. Essa é a avaliação dominante de bancos e consultorias, que apostam numa expansão do PIB na casa de 1% neste ano e de 2,5% a 3% no ano que vem.
Com os juros mais baixos, o menor endividamento dos consumidores, a melhora no mercado de trabalho e a reação do crédito, o consumo das famílias tende a crescer entre 3% e 4% em 2018, depois de avançar algo como 1% em 2017. Para o investimento, diversos analistas veem uma alta na casa de 6% ou um pouco mais no ano que vem, variação que parece forte, mas que se dá sobre uma base muito fraca.
Já a Fazenda tem uma visão mais positiva sobre o investimento - o secretário de Política Econômica, Fabio Kanczuk, vê espaço para a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) crescer na casa de dois dígitos em 2018.
Para analistas de bancos e consultorias, porém, o consumo privado, com peso de quase dois terços no PIB, é que continuará a puxar a economia. "A contribuição do consumo das famílias para o crescimento será a maior pelo lado da demanda", diz Alessandra Ribeiro, economista da Tendências Consultoria. Ela projeta uma expansão de 3% para a demanda das famílias e de 6,2% para o investimento. Com peso bem menor, equivalente a cerca de 16% no PIB, a FBCF vai contribuir de modo mais modesto para o crescimento, mesmo crescendo a um ritmo duas vezes mais forte que o consumo privado, avalia Alessandra, que espera expansão para o PIB de 2,8%.
O economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, também vê uma alta de 3% do consumo das famílias em 2018. Segundo ele, o mercado de trabalho continuará a melhorar, numa ambiente de juros menores e melhora da confiança.
A Selic, hoje em 7% ao ano, deve cair para 6,75% em fevereiro, podendo encerrar 2018 nesse nível ou até em 6,5%. O mercado de crédito também deve beneficiar o consumo, avalia Kawall. Para o PIB, ele acredita em crescimento de 2,5% em 2018, esperando alta de 4% do investimento.
Embora deva fechar a média deste ano em baixa, o investimento começou a reação no terceiro trimestre quando cresceu 1,6% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal. O tombo da FBCF entre o quarto trimestre de 2013 e o segundo trimestre deste ano, contudo, foi assustador, chegando a quase 30%.
Kawall observa que o setor de construção civil tem sido "o principal gargalo quando se trata da recuperação desse componente do PIB". Para ele, "os investimentos do setor imobiliário e de infraestrutura devem retornar em ritmo bastante lento, considerando os estoques elevados no primeiro caso e as restrições fiscais do setor público no segundo, mesmo considerando a expectativa de alguma retomada em função das privatizações". Já a situação no setor de máquinas e equipamentos é melhor, avalia Kawall.
Nas contas Alessandra a projeção de uma alta de 6,2% do investimento em 2018 embute uma expansão de 3,1% da construção e de 11,8% do consumo aparente de bens de capital (a soma da produção e da importação, excluindo a exportação).
O economista-chefe do UBS Brasil, Tony Volpon, espera um avanço de 6,5% da formação bruta de capital fixo, mesmo com a grande ociosidade na economia. Ele diz ver com ceticismo os índices de utilização de capacidade instalada. "São pesquisas que mostram a percepção sobre a capacidade ociosa do empresário", afirma Volpon, destacando o aspecto subjetivo dessa avaliação, ainda mais depois de uma recessão tão longa.
Outro ponto, segundo ele, é que, num momento recessivo, os empresários deixam de lado primeiro a parte menos eficiente de suas linhas de produção. Quando é necessário reativá-la, é possível que ela tenha sofrido uma depreciação muito grande e demande investimentos, avalia Volpon. Por fim, ele diz que o investimento não se resume apenas a máquinas ou à construção, mas também a softwares, por exemplo. Numa economia em que serviços respondem por mais de 70% do PIB, isso tem relevância.
Mesmo com essa visão um pouco mais otimista sobre a FBCF, Volpon diz que a estrela da retomada ainda será o consumo das famílias. A situação patrimonial dos consumidores melhorou mais que a das empresas Para Volpon, o consumo das famílias vai avançar 3,7% no ano que vem, ajudando a garantir um crescimento do PIB de 3,1%.
Um fator que pode refrear decisões de investimento é a incerteza em relação ao quadro eleitoral, o que traz interrogações sobre como a precária situação das contas públicas será encaminhada a partir de 2019. Boa parte dos cenários de bancos e consultorias embute a aposta na vitória de um candidato comprometido com as reformas e a o ajuste fiscal, como o Safra.
Em relatório, os economistas liderados por Kawall observam que "a incerteza política com relação à eleição presidencial de 2018 será anormalmente maior do que em episódios passados". Na visão do banco, "se o compromisso com as reformas cessar e o populismo econômico for restabelecido", o cenário desenhado para a economia mudaria drasticamente para pior. "O ciclo político será, portanto, o elemento-chave do cenário econômico brasileiro no próximo biênio."
Para o economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, a questão eleitoral pode limitar, mas não interromperá o investimento em 2018. Otimista quanto à atividade, Oliveira aposta numa expansão do PIB de 4,1% no ano que vem, destacando o impacto do juro baixo. O mercado de trabalho continuará em recuperação e a retomada do crédito vai prosseguir, diz Oliveira, que vê o consumo com maior destaque no primeiro semestre - o investimento deve ganhar mais espaço no segundo. Para ele, a melhora da economia fará um candidato reformista ganhar espaço já no primeiro semestre, diminuindo as incertezas eleitorais. Isso ajuda a entender a projeção de um crescimento de 4,1%.
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