- Folha de S. Paulo
O que o Brasil tem a ver com a crise política no Peru? Tudo, a começar pelo fato de que a confusão que aflige nossos vizinhos é produto das delações da Odebrecht.
O atual presidente, Pedro Pablo Kuczynski, e seus três últimos antecessores são investigados sob suspeita de receber propina da empreiteira baiana. Dois deles já tiveram a prisão decretada pela Justiça.
Ollanta Humala está na cadeia há cinco meses, acusado de lavagem de dinheiro. Alejandro Toledo está foragido nos EUA. É acusado de receber US$ 20 milhões para favorecer a Odebrecht na concessão de uma rodovia que liga o Peru ao Brasil.
Presidente duas vezes, Alan García foi denunciado sob acusação de fraudes no metrô de Lima. Há duas semanas, ele depôs a uma CPI de nome autoexplicativo: "Comisión Investigadora del Caso Lava Jato".
Agora o foco está sobre Kuczynski, um liberal conhecido pela sigla PPK que chegou ao poder no ano passado. Ele é suspeito de receber propina da Odebrecht quando era ministro. Uma de suas empresas embolsou US$ 782 mil da empreiteira baiana.
Controlado pelo grupo político do ex-presidente Alberto Fujimori, o Congresso instaurou processo de impeachment contra PPK. Ele se livrou da degola na quinta-feira, com a ajuda de dez parlamentares da oposição que se abstiveram de votar.
Três dias depois, o presidente retribuiu o socorro: concedeu indulto humanitário a Fujimori, que estava preso desde 2005. Ele foi condenado a 25 anos por corrupção e crimes contra a humanidade, numa guerra suja que deixou 70 mil mortos.
A troca do mandato de PPK pelo perdão ao antecessor mostra o que acontece quando adversários políticos se unem para salvar a pele num "grande acordo nacional".
Isso quase aconteceu por aqui há dois anos, quando Eduardo Cunha ofereceu ao PT um pacto de blindagem recíproca. A ameaça de um acordão à peruana deve voltar em 2018, ano de eleição presidencial.
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