- Folha de S. Paulo
É possível gastar muito latim na tentativa de explicar o recuo do governo Temer com a publicação da nova —e correta— portaria sobre trabalho escravo. Nenhuma justificativa soará mais convincente do que o pragmatismo político derivado do medo das urnas.
O ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, deixou a pasta oficialmente nesta sexta-feira (29), não sem antes assinar a norma alterada. O deputado do PTB alegou que quer disputar a eleição de 2018 —embora o prazo para desincompatibilização só termine em abril. Segundo o líder do partido na Câmara, Jovair Arantes, Nogueira tinha planos de deixar o ministério ainda em outubro.
Desde então, o ministro petebista sambou na cara do brasileiro. Naquele mês, instaurou a polêmica com a portaria que alterou as regras de fiscalização do trabalho escravo. O texto restringia as situações em que patrões são autuados por submeterem trabalhadores a condições degradantes e jornadas exaustivas.
Apesar de todas as críticas, até internacionais, Nogueira manteve-se firme na briga pela medida, que foi suspensa por determinação da ministra do STF Rosa Weber. Não quis melindrar a bancada ruralista, que estava prestes a votar a segunda denúncia na Câmara contra Temer.
Em novembro, em entrevista à Folha, saiu em defesa da ministra Luislinda Valois (Direitos Humanos), que havia solicitado acumular salário com aposentadoria, caso contrário sua atividade se assemelharia a trabalho escravo. "Precisamos manifestar nossa solidariedade a ela, pela história da ministra." Não há registro de igual demonstração de apreço a professores demitidos de grupos privados de ensino superior, pós reforma trabalhista.
Ainda no mês passado, em pronunciamento em rede nacional, Nogueira afirmou que a nova CLT irá consolidar direitos, "pois direito não se revoga, apenas se aprimora".
Bordão que o ministro-candidato, na última hora, resolveu aplicar.
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