sábado, 30 de dezembro de 2017

Combater epidemia de violência é desafio para 2018: Editorial/O Globo

No Rio de Janeiro, desde setembro, forças federais atuam em conjunto com as polícias em ações específicas, mas os resultados ainda estão aquém do necessário

Não há dúvida de que este ano foi marcado pela explosão dos índices de violência em todo o Brasil. Já no primeiro dia de 2017, um motim no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus, tendo como pano de fundo a guerra entre facções do Sudeste e do Norte, deixou 56 mortos e expôs de forma contundente as mazelas de um sistema carcerário depauperado. Viriam outros dois grandes massacres em janeiro, repetindo as mesmas cenas de horror: um na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, com 31 mortos, e outro na Penitenciária de Alcaçuz, no Rio Grande do Norte, onde 26 presos morreram. O ano estava apenas começando.

A escalada da violência não é um fenômeno novo, principalmente nos grandes centros e nas regiões mais industrializadas. Mas, nos últimos anos, ela se espalhou como uma epidemia pelo país inteiro. Para se ter uma ideia desse avanço, basta observar os índices de criminalidade de estados das Regiões Norte e Nordeste, que, há pouco mais de uma década, pareciam imunes a essa chaga. Como mostrou uma série de reportagens do GLOBO, no Rio Grande do Norte, o número de homicídios aumentou 388% entre 2001 e 2015; no Maranhão, 353%; e, no Pará, 286% (infográfico acima). No Pará, aliás, encontra-se a cidade mais violenta do país: Altamira. O município, que tem pouco mais de cem mil moradores, registra taxa de 124,6 homicídios por cem mil habitantes, bem superior às do Rio (23,4) e de São Paulo (13,5).

Não à toa, 23 governadores, dois vice-governadores e quatro ministros se reuniram, em outubro, em Rio Branco, no Acre, para discutir ações contra a violência. Entre as reivindicações, estão a criação de um Plano Nacional de Segurança, a realização de ações integradas entre as diversas forças de segurança; a criação de uma força-tarefa para reprimir o tráfico de drogas e armas, e a ampliação da presença das Forças Armadas, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal nas fronteiras.

O inédito encontro do Acre traduz a urgência de se combater o problema da violência em nível nacional e de forma integrada. Está mais do que claro que a questão não será resolvida no âmbito dos estados, por diversos motivos. Um deles é que facções criminosas do Rio e de São Paulo passaram a agir em praticamente todas as regiões do país.

No entanto, as ações para enfrentar esse aumento da criminalidade têm sido tímidas, tanto por parte do governo federal quanto pelos estados. No Rio de Janeiro, desde setembro, forças federais atuam em conjunto com as polícias em ações específicas, mas os resultados ainda estão muito aquém do necessário. O número de homicídios, que vinha caindo, voltou a subir. E o de roubos tem disparado nos últimos meses.

Enfrentar a violência é um dos desafios para os governos em 2018. Mas, para combatê-la, é preciso mais que boas intenções. É necessário um Plano Nacional de Segurança amplo e permanente, o uso da inteligência e de ações integradas. Todos sabem disso. A virada do ano pode ser um bom momento para começar a agir.

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