Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro | Valor Econômico
BRASÍLIA - Único partido de fora da esquerda que realmente cogitava apoiar a tentativa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de retornar ao Palácio do Planalto, o PR já dá como certo, nos bastidores, que a aliança não vai para a frente após a condenação do petista por unanimidade no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), o que prejudicou a estratégia jurídica do PT.
O discurso oficial no partido é de que a decisão será só em abril ou maio, quando o quadro eleitoral estiver mais claro e o recurso de Lula ao próprio TRF-4 provavelmente já julgado, mas reservadamente dirigentes partidários dizem que não há chance de o PR embarcar numa aventura jurídica. As chances de apoiar um outro nome do PT também são mínimas, quase nulas.
Lula conversava com o ex-deputado Valdemar Costa Neto, principal comandante do PR, embora não tenha cargo de direção desde que foi condenado no mensalão, para reeditar a vitoriosa aliança que o levou à vitória em 2002, com o empresário José Alencar, então no partido, como vice-presidente. O PR queria a vaga de novo caso apoiasse o petista agora.
Parlamentares próximos à cúpula do PR dizem, contudo, que a decisão unânime do TRF-4 reduziu drasticamente os recursos judiciais que Lula poderia usar para concorrer. "A possibilidade de se aliar ao Lula fica enfraquecida caso ele só consiga ser candidato por meio de uma liminar", diz o líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA). "Não vejo consistência em tocar uma candidatura que já começa muito questionada", pontua.
Para o deputado João Carlos Bacelar (PR-BA), Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, provavelmente seria o candidato do PR se tivesse a condição de registrar sua candidatura. Com a condenação, essa aliança se torna improvável. "Ainda há outros recursos, por isso é melhor aguardar, mas todas as sinalizações do Judiciário são negativas à candidatura dele", diz.
O PR mantém conversas com outros candidatos de "centro-direita". O mais provável seria, nesse cenário, apoiar a candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ou do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). Com ambos, afirma Rocha, o PR não necessariamente exigirá o cargo de vice-presidente, mas vai requerer espaço no futuro governo.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) também conversa com o PR, mas as chances de aliança são menores. O parlamentar chegou a ser convidado para ser candidato à Presidência da República pela sigla, mas optou por uma legenda pequena, onde teria mais influência sobre o partido, embora menos estrutura. Ele já namorou o PEN, mas agora está a caminho do PSL.
Outro partido do chamado Centrão que tem dirigentes favoráveis a Lula é o PP, mas, dentro da sigla, essa não era tratada como uma possibilidade real. A agremiação nunca apoiou o ex-presidente formalmente numa eleição e, com exceção de 2014, permaneceu neutra nas últimas quatro corridas presidenciais - seus diretórios se dividiam entre vários candidatos.
No PRB, que abrigou José de Alencar após a saída do PR, antes mesmo do julgamento já não se cogitava a possibilidade de aliança com o petista. Os demais partidos que Lula conversava para uma composição eram todos no campo da esquerda: PSB, PDT e PCdoB.
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