segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Partidos historicamente alinhados a Lula vivem o dilema da falta de rumo

Para analistas, insistir com petista pode prejudicar esquerda nas urnas

Bruno Calixto, Gabriela Varella e Ruan de Sousa Gabriel / O Globo

A condenação em segunda instância do ex-presidente Lula não apenas redefinirá o tamanho da liderança do petista como também levará os partidos de esquerda a um dilema sobre o caminho que devem trilhar. Oito dos mais destacados analistas políticos do quadro nacional, de formações e filiações diversas, concordam que Lula está no jogo com um tamanho menor do que no passado. E que o futuro deste campo político está cercado de dúvidas.

Candidato ou não, preso ou não, o petista seguirá relevante na sucessão presidencial. Mas é o grau de corrosão que sua imagem pública sofrerá com a condenação que determinará sua capacidade de atrair ou transferir votos, avalia o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política na Universidade Estadual Paulista.

— Supondo que a candidatura seja impugnada ou que Lula seja preso, terá um efeito muito grande sobretudo na vida política eleitoral, mas também na vida política como um todo. Não é pouco importante — afirma Nogueira.

Para o filósofo José Arthur Giannotti, professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), a crise do petismo pode ser a oportunidade para o exercício de uma autoanálise renovadora nos partidos de esquerda.

— Se o PT começar a fazer a autocrítica que alguns de seus membros, como Olívio Dutra, já começaram, podemos pensar que a Lava-Jato realmente teve sucesso na higienização do sistema político brasileiro — analisa o filósofo.

Em lado ideológico oposto, mas vizinho de cátedra de Gianotti, o filósofo Vladimir Safatle, também professor da USP, disse que nunca houve tanta incerteza quanto ao cenário político nacional:

— O horizonte gerencial do país não se renovou. Tanto que hoje você procura desesperadamente figuras que pudessem renovar a política, até o limite de pegar astros de televisão.

Faltam líderes políticos, apontou o sociólogo Sérgio Abranches. Na esquerda, Lula tornou este dilema mais visível:

— A esquerda nunca conseguiu fazer prosperar outra liderança à sombra de Lula — avalia Abranches, autor do conceito “presidencialismo de coalizão”.

MENOR INFLUÊNCIA POLÍTICA
Rubens Figueiredo, cientista político, autor de pesquisas usadas como estratégia de marketing político, acredita que o quadro se definirá conforme os próximos movimentos dos petistas.

— O problema é saber se Lula vai atuar para construir uma proposta coletiva sem ele na disputa ou se o PT vai insistir na estratégia de manter a própria candidatura — explica Figueiredo, que prevê uma redução da influência política de Lula ao longo do ano.

Na mesma linha segue Carlos Pereira, pós-doutor em Ciência Política pela Universidade de Oxford e professor da Fundação Getúlio Vargas:

— A condenação dá chance de o eleitor se livrar do feitiço do expresidente Lula e ao mesmo tempo liberar os partidos de esquerda que o PT nucleava. A legenda, desde 1989, funciona como protagonista da esquerda; as outras siglas funcionam como satélites. A condenação cria incentivos para que esses partidos se libertem e sigam caminho próprio. Podem tentar ocupar o espaço que era do PT, que está numa enrascada sem tamanho.

Pereira alerta que “uma estratégia irresponsável de Lula pode levar ao suicídio da esquerda em 2018”.

O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais, aposta em sentido contrário:

— À medida que o discurso de perseguição política tenha efeito, pode ajudar ou resultar num certo recrudescimento de apoio a Lula ou alguém indicado por ele. Vivemos um período de singulares incertezas.

Matias Spektor, professor de Relações Internacionais na Fundação Getúlio Vargas, vê um enfraquecimento da esquerda de modo geral. E analisa que todos os campos políticos, para conseguirem chegar ao Planalto, precisam buscar o voto de centro. E, neste caso, uma eventual prisão de Lula poria a esquerda em prejuízo maior:

— O problema de Lula preso é que o campo de esquerda vai ter grande dificuldade para conseguir o eleitor do centro. As chances eleitorais da esquerda ficam muito diminuídas com Lula preso.

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