Políticos poderosos foram do céu ao inferno entre 2014 e 2018, um período divisor de águas no país
Flávio Freire e Tiago Dantas | O Globo
SÃO PAULO - Nem os analistas mais antenados poderiam imaginar no que se transformaria o cenário político nacional nesses últimos quatro anos. Desde 2014, a crise política, forjada em sucessivos esquemas de desvio de dinheiro público, escanteou da cena eleitoral quem antes batia no peito, orgulhoso da própria popularidade. E são as pesquisas de opinião pública que hoje não só referendam, mas alimentam ainda mais o imaginário coletivo quando se procura uma resposta para o que provocou o sobe e desce dos poderosos do país: a corrupção.
— Vivemos uma enorme crise de representatividade, e, pior, por causa da corrupção, algo que não será possível sanear rapidamente — afirma o cientista político Rubens Figueiredo.
O vaivém da maré fez muita gente nadar contra a correnteza nesse período. Sem enfrentar qualquer tipo de investigação, Lula tinha como maior saia-justa, quatro anos atrás, o apelo de seus correligionários para que fosse candidato à Presidência no lugar de Dilma Rousseff. A campanha “Volta, Lula” dominava o eleitorado de esquerda. Hoje, preso na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, o líder petista tem sofrido um revés atrás do outro na Justiça, que manteve sua condenação de 12 anos e um mês de prisão.
Quem lá atrás quase assumiu a Presidência, caso do tucano Aécio Neves, agora vive à sombra de ter se tornado réu em acusação de corrupção no Supremo Tribunal Federal (STF). Aécio testemunhou a prisão da irmã, Andrea, acusada de envolvimento numa negociata com Joesley Batista, antes um dos mais respeitados empresários do país, hoje personagem da trama policial que parece roteirizar a política.
Dilma, até 2016 sob efeito de uma reeleição vitoriosa, tenta hoje uma vaga no Senado por Minas Gerais, o mesmo estado de Aécio, seu principal adversário. Nesse período, ela sofreu impeachment e teve seu nome citado por delatores.
O tucano Geraldo Alckmin viu também sua onda de popularidade perder força desde a campanha vitoriosa de 2014 para o governo de São Paulo. Lá atrás, Alckmin trabalhava com folga sua reeleição numa campanha em que tinha 55% das intenções de voto, o que o fez vencer ainda no primeiro turno. O tempo passou, e a nuvem sobre o ex-governador parece cada vez mais carregada. Atualmente, o tucano, que enfrenta investigação de caixa dois, tem sido atacado ainda pela acusação de que foi beneficiado por propina arrecadada por seu cunhado.
Nem só presidenciáveis tiveram de lidar com os os altos e baixos. Então líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha atuava em 2014 de forma desenvolta na Casa, onde liderava um grupo importante que votava contra o governo como forma de pressionar por seus próprios interesses. No ano seguinte, Cunha fora eleito presidente da Câmara. Está preso desde 2016.
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