- O Estado de S.Paulo
É preciso ver o quanto a China vai deixar o yuan perder ante a moeda de Trump
Quando o yuan registrou sua pior queda mensal frente o dólar em junho, com perda de 3,3%, investidores ao redor do globo começaram a se perguntar se a China usaria sua moeda como arma contra os Estados Unidos se a crescente tensão comercial entre os dois países descambasse para uma guerra completa.
Na semana passada, o presidente do Banco Central chinês, Yi Gang, correu para acalmar o mercado ao declarar que a China vai manter sua moeda “basicamente estável e a um nível razoável e equilibrado”. Nesta terça-feira, 10, o dólar operava ao redor de 6,6364 yuans, após ter batido a barreira psicológica de 6,70 na semana passada. Mas há quem projete uma taxa de 7,0 yuans no fim do ano.
Mas a magnitude da desvalorização do yuan em junho e a informação divulgada na segunda-feira de que as reservas internacionais chinesas aumentaram, quando muitos analistas esperavam uma queda em razão dos efeitos da depreciação cambial, deixaram uma pulga atrás da orelha dos investidores.
Em junho, as reservas internacionais da China subiram US$ 1,51 bilhão para um total de US$ 3,112 trilhões. Em maio, houve queda de US$ 14,23 bilhões. Muitos analistas chegaram a dizer que, com o aumento surpreendente das reservas em junho, o governo chinês simplesmente fechou os olhos e deixou sua moeda registrar a pior depreciação mensal.
Houve até quem dissesse que tal postura passiva das autoridades chinesas em junho em relação ao desempenho da sua moeda foi apenas para dar uma amostra ao presidente Donald Trump do que pode vir adiante caso os Estados Unidos decidam impor tarifas sobre a importação de até US$ 500 bilhões em produtos chineses.
Será mesmo que o que aconteceu com o yuan em junho faz parte de uma nova política de “desvalorização competitiva” em meio à tensão comercial ou resultou somente de uma conjuntura desfavorável macroeconômica?
Por enquanto, a maioria dos analistas internacionais acredita que a desvalorização do yuan em junho foi resultado de fatores macroeconômicos e não de um instrumento deliberado para retaliar os Estados Unidos.
Uma das razões é que, se os investidores domésticos perceberem que o governo chinês estaria, de fato, perseguindo uma política ativa de desvalorizar o yuan em ritmo mais acelerado como arma contra os Estados Unidos, o risco é de uma fuga de capitais em busca de ativos fora da China. Sem contar que o endividamento em dólar por empresas chinesas aumentou muito no ano passado. Uma desvalorização mais forte do yuan colocaria pressão forte nessas empresas.
Também, conforme o argumento dos analistas, a depreciação do yuan desde meados de maio – atingindo o ápice em junho – reflete apenas uma correção natural, pois, enquanto outras moedas emergentes já vinham perdendo valor ante o dólar nos últimos meses, a divisa chinesa não acompanhou. Isso representou, na realidade, uma apreciação efetiva em termos reais do yuan quando comparado a uma cesta de moedas.
Ou seja, ao deixar o yuan se depreciar fortemente ante o dólar em junho, as autoridades chinesas estavam apenas corrigindo o que parecia insustentável: segurar a moeda chinesa diante da tendência global de valorização do dólar.
Além disso, num cenário de desaceleração do crescimento da economia da China – que pode até ficar abaixo da meta fixada para o governo neste ano, de expansão de 6,5% – e de menor superávit comercial diante da imposição de tarifas pelos Estados Unidos, os analistas dizem que seria natural o yuan perder valor ante o dólar. Mas a um ritmo de 3,3% quando o habitual é praticamente o yuan sofrer leves oscilações mensais?
Novas desvalorizações mensais do yuan na magnitude registrada em junho poderão desestabilizar os mercados globais, em particular países emergentes. Como o yuan serve de âncora na Ásia, sua depreciação mais forte ante o dólar levaria, por tabela, a uma perda acelerada de outras moedas asiáticas.
E num efeito dominó, essa onda de desvalorização cambial da China atingindo a Ásia acabaria por engrossar a tendência global de alta do dólar, respingando, por via indireta, no real brasileiro.
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