Mal nas pesquisas, tucano ganhou fôlego ao obter a maior coligação da eleição
Daniel Carvalho, Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Depois de meses de crise partidária e desempenho decepcionante em pesquisas, Geraldo Alckmin (PSDB) chega neste sábado (4) à convenção que o confirmará na disputa pela Presidência com estatura de candidato competitivo.
Se até semanas atrás tinha de lidar com a pressão de correligionários para substituí-lo, o deboche de adversários à esquerda e à direita e o desânimo de sua própria equipe, o tucano hoje precisa responder sobre sua aliança com o centrão (DEM, PP, PR, PRB e SD).
Ele formou o maior arco de alianças, o que trouxe 40% do tempo de televisão e capilaridade partidária, revertendo o clima de abatimento que assombrava seu entorno.
No ato deste sábado, em um centro de convenções em Brasília, Alckmin subirá ao palco com o peso da aliança com partidos conhecidos pelo fisiologismo e lideranças envolvidas em diversos esquemas de corrupção.
O tema também atinge o candidato e a sua legenda, o que esvazia o discurso que sustenta contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e o PT, adversário histórico do PSDB.
Sobre Alckmin pesam suspeitas de caixa dois em campanhas, o que ele nega. Além dele, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que não confirmou presença no ato, é réu acusado de corrupção passiva e obstrução de Justiça na Operação Patmos, da Polícia Federal. Aécio foi gravado pelo empresário Joesley Batista, da JBS, pedindo a quantia de R$ 2 milhões. O senador nega qualquer irregularidade.
O presidenciável ainda terá de se esforçar para dissociar sua imagem da do governo Michel Temer. O emedebista chegou ao poder com apoio dos tucanos, fiadores do impeachment de Dilma Rousseff (PT), e o PSDB ocupou ministérios importantes.
Temer também contribuiu indiretamente para a campanha de Geraldo Alckmin ao ameaçar tomar cargos de integrantes do governo que apoiassem a candidatura de Ciro Gomes (PDT), o que pesou na decisão do centrão de se aliar ao tucano.
Em seu discurso, Alckmin vai defender alianças e capacidade de diálogo para gerar consenso e boa governança.
Também vai encampar oficialmente o desafio de retomar a geração de empregos e promover diversas reformas de uma só vez: a previdenciária, a tributária, a política e a de Estado.
O tucano vai tratar ainda de agenda internacional, abordando questões de competitividade e crescimento produtivo, além da necessidade de desarmar o que aliados chamam de bomba de efeito retardado, gerada pelo rombo do déficit fiscal. Pretende dar ênfase à segurança pública.
Desde que lançou sua pré-candidatura, o paulista de 65 anos nascido Pindamonhangaba já apresentou promessas como unificar cinco impostos em um único, o IVA (imposto sobre valor adicionado), reduzir o imposto de renda de pessoa jurídica, zerar o déficit primário em menos de dois anos e dobrar a renda do brasileiro.
Alckmin foi escolhido candidato do PSDB à Presidência sob constante ameaça de seu apadrinhado político João Doria (PSDB), ex-prefeito de São Paulo que disputará o governo do estado.
Durante toda a pré-campanha, patinou nas pesquisas, alcançando, no máximo, 7% das intenções de voto. A esta dificuldade sempre respondeu que a campanha ainda não havia começado e que o cenário mudaria com o início da propaganda na TV.
Alckmin passou as últimas semanas envolvido em negociações para achar alguém para o posto de vice em sua chapa.
O primeiro indicado pelo centrão, o empresário Josué Alencar (PR), postergou o quanto pôde sua decisão e acabou rejeitando a parceria.
Surgiu o nome da senadora Ana Amélia (PP-RS), gaúcha, crítica do PT e ligada ao agronegócio. O perfil agrada ao eleitorado de Jair Bolsonaro (PSL), principal adversário de Alckmin no campo da direita.
Alckmin é médico anestesista, já foi vereador e prefeito em sua cidade natal. Foi deputado estadual e federal. Depois, governou São Paulo por quatro vezes.
Viciado em café --toma até 15 por dia, com açúcar-- é conhecido entre aliados por gostar de contar causos, piadas politicamente corretas e por adotar citações em seus discursos. Uma das mais constantes é em latim: sublata causa, tollitur effectus (suprima a causa que o efeito cessa).
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