Marina (Rede) e Meirelles (MDB) fizeram ataques diretos à proposta de economista de Bolsonaro; Ciro (PDT) e Haddad (PT), que estreou nos debates, promoveram dobradinha para defender a tributação de lucros e heranças
Gustavo Schmitt | O Globo
SÃO PAULO – A recriação de um imposto sobre transações financeiras, proposta apresentada por Paulo Guedes, responsável pelo programa econômico de Jair Bolsonaro (PSL), foi alvo de críticas dos adversários, no debate ontem entre candidatos à Presidência, na TV Aparecida. O tema provocou confusão na campanha do deputado federal, que pediu maior comedimento do economista em pronunciamentos públicos.
Coube a Henrique Meirelles (MDB) trazer o tema para o centro do encontro. O ex-ministro perguntou a Marina Silva (Rede) qual seria sua opinião sobre a recriação do imposto.
—Já no começo da história (da relação entre Bolsonaro e Guedes) eu vejo que está tendo um incêndio no posto Ipiranga. Alguma coisa está acontecendo porque eles não estão se entendendo. Essa proposta é nefasta para economia e para os mais pobres —disse Marina Silva, seguindo por Meirelles, que aproveitou para também atacar:
— A CPMF é um exemplo do que não pode ser feito. É o resultado de alguém que não tem preparo para administrar o país. Isso é perigoso, é grave e a população tem que ser alertada sobre isso. Não podemos aumentar ainda mais a carga tributária pra os brasileiros.
Numa tabelinha, Fernando Haddad (PT) —que participou pela primeira vez de um debate na campanha —e Ciro Gomes (PDT) defenderam a tributação de lucros e dividendos e ainda a cobrança de impostos sobre a herança dos mais ricos, sem citar a proposta de Guedes.
Ciro perguntou para Haddad qual seria sua proposta para resolver a distorção do sistema tributário. Haddad respondeu que deveria haver cobrança maior de impostos para os mais ricos.
Outros candidatos que participaram do debate evitaram discutir a proposta do economista Paulo Guedes. Alckmin vem usando os programas na TV para atacar Bolsonaro.
O debate foi marcado também pela tentativa de Haddad e de Geraldo Alckmin (PSDB) de desvincularem suas imagens a do presidente Michel Temer. Num enfrentamento direto, o petista e o tucano trocaram acusações sobre alianças com o MDB de Temer, que foi vice de Dilma Rousseff e teve apoio do PSDB no impeachment da então presidente.
Haddad, que na campanha tem evitado ataques diretos aos adversários, chamou a atenção pelo tom incisivo. Ele questionou Alckmin sobre o apoio do PSDB à reforma trabalhista de Temer e a política do teto de gastos, aprovada pelo Congresso. O tucano reagiu, e culpou o PT pelo recrudescimento da violência e o do desemprego no país.
— Quem escolheu o Temer foi o PT. Ele era vice da Dilma — disse Alckmin. — Para ganhar a eleição vale tudo. Mas quem paga a conta é o povo. Temos 63 mil assassinatos e nove milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza —continuou.
Haddad devolveu e afirmou que a responsabilidade pela política de Temer era do PSDB, que deu apoio ao impeachment de Dilma.
—Ele (PSDB) que colocou o Temer lá com um programa completamente diferente do apoiado nas urnas em 2014 — disse Haddad, que prometeu revogar a reforma trabalhista do emedebista, sob o argumento de que “fragiliza o trabalhador".
Houve também embate entre os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Alvaro Dias (Podemos). Dias foi atacado por se apresentar como novo e fazer o discurso da ética, mesmo tendo sido filiado ao PSDB por 20 anos.
— Participei do PSDB durante muito tempo e é verdade, mas sempre na oposição.
No debate, os presidenciáveis não mencionaram a proposta apresentada ontem pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que uma frente de centro deveria ser consolidada contra o que ele chamou de candidaturas radicais.
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