- Folha de S. Paulo
Conflito obriga mercado a encarar divergências na agenda liberal do candidato
Primeiro, foi Luciano Huck. Depois, Jair Bolsonaro. O economista Paulo Guedes estava em busca de uma tela em branco para a eleição de 2018. Depois de procurar o apresentador da TV Globo, que desistiu de se candidatar, ele despejou suas tintas liberais sobre o deputado que diz não entender "nada de economia".
Por meses, Guedes e Bolsonaro convenceram banqueiros e empresários da conversão do presidenciável às escrituras do mercado financeiro. Pintado com a cor do dinheiro, o candidato absorveu o receituário do economista e repetiu suas ideias radicais para cortar despesas, reduzir o tamanho do Estado e equilibrar as contas públicas.
O conflito provocado pela proposta de recriação de um tributo semelhante à extinta CPMF, cobrada sobre transações financeiras, mostrou aos investidores que Guedes não é o único artista na equipe.
Horas depois que a Folha divulgou o plano do economista, as páginas de Bolsonaro nas redes sociais (controladas por seus filhos) desautorizaram o projeto. Até o vice Hamilton Mourão, que andava se estranhando com a família, reclamou.
Divergências entre candidato e economista foram convenientemente ignoradas por representantes do mercado, que preferiam ganhar dinheiro enquanto pairavam dúvidas sobre a dupla —em contraponto à conhecida agenda intervencionista do PT e de nomes da esquerda.
Dois dias antes do episódio da CPMF, o petista Fernando Haddad havia repreendido um economista de seu próprio partido, que afirmava que a reforma da Previdência não era urgente. O objetivo era acalmar investidores que se assustavam com o crescimento de sua candidatura.
Assim como Bolsonaro, Haddad também não é uma tela em branco. Ele mesmo tenta balancear as cores do PT com outras tonalidades.
Por enquanto, os donos do dinheiro desconfiam e veem só manchas vermelhas. Continuam andando pela galeria, mas agora conhecem o risco de comprar uma obra de Guedes e levar apenas um Bolsonaro.
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