Por Vanessa Adachi | Valor Econômico
SÃO PAULO - Diante da crescente polarização da disputa presidencial, um manifesto em defesa de uma candidatura única de centro viralizou no WhatsApp de empresários, executivos e economistas, nos últimos dois dias. O texto, apócrifo, ganhou a rede social sem que os responsáveis por seu compartilhamento conhecessem a autoria dele. No início da noite de ontem, a reportagem identificou o cientista político e advogado Miguel Nicacio, de 38 anos, como seu autor.
"Fazemos este apelo em defesa da liberdade de todos os brasileiros: chamemos nossos políticos do centro democrático à responsabilidade. Sra. e Srs. Candidatos à Presidência da República, Marina Silva, Alvaro Dias, Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles e João Amoêdo, defendam nossa democracia, unindo-se em torno de uma candidatura única", diz o texto.
Além dessa, outras iniciativas surgiram também nesta semana em prol de uma terceira via de centro. Um grupo de economistas mulheres, que inclui Elena Landau e Zeina Latif lançaram o manifesto "Mulheres não fogem à luta", no qual argumentam que as mulheres são a maioria da população e também a maioria dos indecisos e que, portanto, podem decidir a eleição. "Devemos afastar candidatos que justificam a violência e propagam o preconceito. Não vamos eleger pessoas que nos vejam como cidadãs de segunda categoria", diz trecho do texto. O grupo fará um debate na segunda-feira.
Ontem, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lançou um manifesto de quatro páginas (ver acima) em que conclama candidatos de centro a se reunir em torno daquele que reunir as melhores condições de vencer.
Antes mesmo que o ex-presidente quebrasse o silêncio, duas pessoas que compartilharam o manifesto apócrifo de Miguel Nicacio chegaram a dizer em conversa com o Valor que esperavam que FHC pudesse falar em prol de uma candidatura única. Um deles, o presidente de uma incorporadora, pediu para se manter anônimo. O outro foi o jurista Miguel Reale Junior, um dos autores do pedido de impeachment da ex-presidente Dilma. Reale Jr. chegou a ser apontado na tarde de ontem como um dos responsáveis por lançar o manifesto. "Fui um dos que aderiu e compartilhou e estou trabalhando para que essa aglutinação aconteça", disse, por telefone.
Para o jurista, a união não precisa se dar em torno do candidato com maior intenção de votos nas pesquisas. "O critério não tem que ser quem tem mais votos, que é o Geraldo Alckmin, mas quem aglutinaria mais." Ele não quis indicar uma preferência.
Já João Nogueira Batista, ex-presidente da Suzano Papel e Celulose e membro de diversos conselhos de administração apontou o candidato do PSDB para o papel de aglutinador. "Como a maior dificuldade para essa aglutinação é o ego individual e de partidos, o Partido Novo deveria ser 'novo' na atitude e liderar a aglutinação em torno do que tem mais voto", disse.
Em conversa por telefone, Nicacio disse que a ideia de escrever o texto surgiu de uma conversa entre amigos, como Joana Barcellos, preocupados com o futuro da democracia no país. "Mais do que pedir a união em torno de candidatura única, é um chamado para se preservar a democracia", disse.
Nicacio contou que o texto foi escrito e compartilhado inicialmente na noite de segunda para terça-feira. "Não imaginava que ganharia essa repercussão", disse, visivelmente nervoso. "A sociedade brasileira, mas em particular a elite, que tem acesso a recursos, não entendeu o que envolve ser uma democracia, que resolve conflitos de forma pacífica", afirmou ele.
Nicacio foi pesquisador no Núcleo de Estudos Fiscais da FGV e no início do ano dirigiu por três meses o movimento Frente pela Renovação, que tinha como um dos apoiadores o Vem pra Rua. Nicacio diz não ser ligado ao Vem pra Rua. Joana Barcellos, a coautora do texto, apoia candidatos do Novo em sua página no Facebook. O grupo criou uma página no Facebook chamada #extremosnão, que ontem contava com pouco mais de 1,4 mil membros.
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