Por André Guilherme Vieira, César Felício e Fabio Murakawa | Valor Econômico
SÃO PAULO E APARECIDA (SP) - Em uma "carta aos eleitores e eleitoras" de pouco mais de 4 páginas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso alertou para o perigo de uma eleição polarizada entre os candidatos Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) e, sem citar nomes, apelou para que presidenciáveis do centro, "que não apostam em soluções extremas, se reúnam e decidam apoiar quem melhores condições de êxito eleitoral tiver". Segundo o ex-presidente, "ainda há tempo para deter a marcha da insensatez".
Candidato apoiado por FHC, Geraldo Alckmin (PSDB) está em quarto lugar nas pesquisas. O apelo do ex-presidente é em favor de Alckmin e direcionado aos que estão logo atrás do tucano: Marina Silva (Rede), Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo). FHC, entretanto, não menciona nomes no documento. Horas depois, no Twitter, procurou ser explícito: "Quem veste o figurino é o Alckmin, só que não se convida para um encontro dizendo 'só com este eu falo'". Um entrave para viabilizar tal união é o fato de o terceiro colocado nas pesquisas ser Ciro Gomes (PDT), hoje eleitoralmente mais competitivo do que Alckmin.
O ex-presidente afirma que é preciso romper "a radicalização dos sentimentos políticos" que seria representada pela atual polarização. "A gravidade de uma facada com intenções assassinas haver ferido o candidato que está à frente nas pesquisas eleitorais deveria servir como um grito de alerta", ressaltou FHC, em evidente referência a Bolsonaro, acusado na sequência de estimular uma pregação de ódio.
"Basta de pregar o ódio, tantas vezes estimulado pela própria vítima do atentado. O fato de ser este o candidato à frente das pesquisas e ter ele como principal opositor quem representa um líder preso por acusações de corrupção mostra o ponto a que chegamos", disse FHC, dessa vez referindo-se a Haddad.
Na avaliação do ex-presidente, "ou se busca a coesão política, com coragem para falar o que já se sabe e a sensatez para juntar os mais capazes para evitar que o barco naufrague, ou o remendo eleitoral da escolha de um salvador da Pátria ou de um demagogo, mesmo que bem intencionado, nos levará ao aprofundamento da crise econômica, social e política", advertiu. O aceno do ex-presidente foi recebido de maneira fria pelos destinatários. "Se o candidato do PSDB renunciar em favor de minha candidatura, eu aceito", comentou Henrique Meirelles, na entrada para o debate da TV Aparecida, em Aparecida (SP). "O PSDB só tem autoridade de propor conjugação de esforços se renunciar preliminarmente à sua candidatura", disse Alvaro Dias.
Marina Silva (Rede) ironizou: "Ninguém chama para tirar as medidas com a roupa pronta", escreveu a ex-senadora em uma rede social, replicando o post de FHC.
O manifesto de FHC não foi um gesto isolado. Outra iniciativa de mesmo sentido mobilizou o aplicativo de mensagens WhatsApp
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