A nova dinâmica eleitoral, com uma massiva adesão ao antipetismo mais à direita, deixou parte considerável dos partidos políticos em compasso de espera. Em menos de 20 dias o eleitor voltará às urnas para escolher quem será o próximo presidente da República, com consequências decisivas sobre o rumo do País, e mesmo assim várias legendas optaram pela neutralidade em relação aos candidatos do PSL e do PT.
Na terça-feira passada, a Executiva Nacional do PSDB decidiu liberar o voto de seus filiados no segundo turno da eleição presidencial. “Essa é a posição coerente neste momento difícil que o País atravessa. Não apoiaremos nem Bolsonaro nem Haddad. Não nos sentimos representados nem por um nem por outro. Todos os filiados e líderes estão liberados para que decidam de acordo com suas convicções”, disse o presidente do partido, o ex-governador Geraldo Alckmin.
O Partido Novo, que estreou em eleição nacional, elegendo oito deputados federais, informou que “não apoiará nenhum candidato à Presidência, mas somos absolutamente contrários ao PT, que tem ideias e práticas opostas às nossas”.
Também o PRB e o PP optaram pela neutralidade no segundo turno das eleições presidenciais, liberando os seus membros para eventuais apoios a qualquer dos dois candidatos. Ainda que não tenha feito um anuncio oficial, o DEM também liberou o apoio individual de seus filiados no segundo turno.
A neutralidade de tantos partidos no segundo turno das eleições presidenciais é uma novidade. Antes, o que se via era a instalação de um balcão de negócios ato contínuo ao primeiro turno, com negociação de cargos em troca de apoios.
Nessa nova atitude se pode vislumbrar a preocupação de muitas legendas para não assumir posições que, nesses tempos de forte polarização, possam contrariar sua base eleitoral. Se assim for, trata-se de um avanço político, ainda que pequeno. Seria o sinal de uma atuação um pouco mais programática por parte dos partidos.
A principal causa para essa neutralidade das legendas parece ser, no entanto, a própria novidade do quadro eleitoral. Os partidos ainda não sabem como serão feitas as novas composições político-partidárias. Nota-se uma sensação de perplexidade, também em razão da forte renovação dos quadros do Legislativo. O resultado das eleições de domingo passado mostrou que o eleitor deseja uma nova política, sem corrupção, mais autêntica, mais próxima às suas preocupações.
Na escolha do voto, o eleitor deu, por exemplo, uma grande importância a questões culturais e de costumes. Seja por ter encontrado candidatos que atendiam de forma mais clara a seus anseios em relação a essas questões, seja por estar agastado com tantas ações estatais que contrariaram suas convicções pessoais, o fato é que o eleitor usou o seu voto para expressar um desejo de mudança na política. Tudo isso contribui para essa atuação cautelosa por parte das bancadas.
Outro exemplo de que o cenário político foi profundamente afetado pelas eleições de domingo passado foi a posição assumida pelo PSB, aliado histórico do PT e que teve participação decisiva no enfraquecimento da candidatura presidencial de Ciro Gomes (PDT). No primeiro turno, o PSB, atendendo a um pedido de Lula, manteve-se neutro na disputa presidencial. Agora, ainda que tenha declarado apoio a Fernando Haddad, liberou os diretórios do Distrito Federal e de São Paulo para se posicionarem de forma independente no segundo turno das eleições presidenciais. “Decidimos que São Paulo e o Distrito Federal poderão examinar suas coligações e definirem qual posição irão querer adotar. (...) Eles precisam ter liberdade para conduzir suas candidaturas”, disse o presidente da legenda, Carlos Siqueira.
Que o novo cenário político, fruto direto das escolhas do eleitor, possa se traduzir numa atuação das legendas mais respeitosa com o cidadão e mais responsável com o País. A cautela das legendas não pode ser mera astúcia – deve ser expressão do profundo desejo de captar e atender aos anseios das urnas. Afinal, estamos numa democracia.
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